Ervin Riffel
O entrevistado da semana é Ervin Riffel, nascido em Guabiruba aos 28.09.1919, filho de José e Carolina Kohler Riffel, viúvo de Waltrudes Deichmann com quem teve onze filhos: Ésio ( in memoriam), Lúcia, Arno (in memoriam), Guisela, Ilse, Regina, Guido, Ivo José, Ingo Luiz, Ciro e Angêla. (Ésio é o pai do Procurador-Geral do Município de Brusque, Dr Elton R. Riffel). (Ivo José é Oficial de Justiça) Como foi sua infância?
Trabalhava na roça e freqüentava a Escola Otília Mayer Schlindwein – em Guabiruba – até os 12 anos de idade. Registre-se que naquela época Guabiruba pertencia à Brusque.
Sonho de criança?
Sempre pensava em seu uma pessoa estudada ... um orador.
Como foi sua juventude?
Aos 15 anos fui trabalhar como açougueiro em Blumenau e também ia namorar lá no Bairro Progresso (Garcia). Muitos divertimentos ou ocupação nem era possível, já que só tínhamos folga aos domingos à tarde.
Pessoas que influenciaram?
Meus pais, com certeza.
Em que cidade e em que ano o Sr serviu o exército?
Fui servir o exército em Blumenau com 21 anos, a saber: de janeiro a dezembro de 1041, na época era o 32 Batalhão de Caçadores. Vale lembrar, que era o segundo ano da construção da sede do Batalhão.
E após servir o exército?
Após a baixa no exército retornei à Brusque. Trabalhei na IRESA, nos idos de 42. Em janeiro de 1943, fui convocado para me apresentar em Blumenau. Fizemos inspeção de saúde. Permaneci por um ano e meio em Blumenau. Fomos transferidos para Caçapava-SP, onde permanecemos por aproximadamente três meses e meio. Em seguida fomos deslocados para o Rio de Janeiro, integrando a Força Expedicionária Brasileira. Na inspeção que nos submetemos muitos não ficaram. A inspeção era rigorosa, face o frio intenso que estaríamos submetidos, na Itália. Permanecemos por meio ano no Rio de Janeiro e em setembro – mês de meu aniversário – embarcamos para a Itália.
Como era composto os Regimentos que embarcaram?
Eram 3 regimentos de infantaria: embarcou, primeiro o sexto Batalhão de Caçapava-SP, depois o primeiro, RJ e o décimo primeiro Regimento de Infantaria (MG/RJ). Cada Regimento era composto por aproximadamente cinco mil homens.
Como foi a ida para Itália?
Fomos em dois navios de tropas Norte Americana. Saímos do Rio de Janeiro em setembro de 1944, tendo chegado em Nápoles em outubro, perfazendo 16 dias de viagem.
E a chegada na Itália?
Ao chegar recebemos ordem para permanecer no navio, e ficamos uns 3 dias. O desembarque foi feito em barcos, onde saíamos em aproximadamente 300 homens em cada barco.
O que encontraram em Nápoles?
Em Nápoles estava tudo derrubado, já havia sido bombardeada. A turma comentou; “ Se a guerra for assim, não volta ninguém de nós”.
Permaneceram em Nápoles?
Não, dali fomos para Liborno. A viagem levou aproximadamente dois dias e meio. Ao chegarmos em Liborrno, os americanos já tinham tudo organizado, inclusive, barracas para descansarmos, logo após, os americanos começaram a distribuir armamento, roupa para o frio = a roupa debaixo e uma jaqueta forrada de pelo. Recebemos instruções, treinamos tiros com o armamento americano.
Como era Liborno?
Em Liborno, ficamos numa área que informaram pertencer a um Rei. Tinha mata e animais, onde o Rei caçava. Dali os capitães foram chamados para conhecer o palco da luta – Monte Castelo.
E os Pracinhas continuaram em Liborno?
Fomos transferidos - o décimo primeiro RI – em caminhões de carga, para Monte Castelo, viajamos à noite toda. Lá já estava o sexto RI há uns dois meses. O caminho só tinha uns faróis acessos que logo depois foram apagados. Recebemos a mensagem para não darmos “sopa” que os alemães estão próximos.
Como viram Monte Castelo?
Lá, já, as árvores não tinham mais folha... tudo estragado... pelas 20 horas, os alemães vinham descendo o morro e atacaram nós e ficamos batalhando até as 4 horas da manhã, quando, então recebemos ordem para o décimo primeiro RI recuar e o sexto, avançar. Os alemães também recuaram. Em seguida tomamos Montese. Em 14.05.45 recebemos uma mensagem do General Mascarenhas de Moura: “ Preparar para a grande Ofensiva da Primavera , já que o animal mortalmente ferido ainda pode ser perigoso”.
Depois de Monte Castelo?
Estávamos em Alexandria – norte da Itália – e tomamos um batalhão de cavalaria que inclusive já estava vazio e lá permanecemos por uns dois meses. Um belo dia , ao anoitecer os italianos manifestaram-se “amanhã cedo vamos atacar Mussolini”. Não deu outra: Mataram Mussolini, um general e uma mulher que muitos diziam ser a amante de Mussolini e os penduraram na Praça Pública, de cabeça para baixo.
É verdadeiro que os pretos e brancos não participavam junto na batalha?
A tropa americana separava os pretos dos brancos. Os brasileiros não.
O que era feito com os corpos dos Pracinhas tombados e mortos?
Os corpos dos soldados feridos mortalmente eram recolhidos por enfermeiros e levados ao Cemitério de Pístola. Um expedicionário do RS, Mário Pereira, ficou após o conflito como guardião do Cemitério. Hoje com o falecimento de Mário, ficou como guardião um dos filhos dele.
Como ficaram sabendo que terminou a guerra?
Ficamos sabendo do final do conflito porque aviões passavam jogando bilhetinhos mencionando o fim da II Guerra Mundial.
Então após a passagem do avião jogando os panfletos não houve mais combate?
Só os Russos e Americanos continuaram lutando por mais uns dois dias em Berlin.
Como foi o retorno?
Como estávamos em Alexandria, retornamos para Nápoles, novamente por navio.
De Nápoles para casa que ninguém é de ferro?
Sim, retornamos ao Brasil e quando chegamos ao RJ eu já estava fazendo aniversário novamente, o que retrata minha participação durante um ano no conflito armado.
Com exceção dos falecidos, retornaram todos juntos?
Não, retornamos em três navios, porque havia a preocupação de com o regime de ditadura de Getúlio, implantado no Brasil e o pensamento de que os Pracinhas iriam pretender instalar o Regime Democrático, no retorno da Itália.
Aqui da Região, quantos soldados participaram do conflito mundial?
Da região de Brusque, Botuverá e Guabiruba fomos em 48 e voltamos todos.
No Brasil foi erguido algum monumento aos Pracinhas tombados em combate?
No aterro do Flamengo, Rio de Janeiro, existe o Monumento aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, conhecido como Monumento aos Pracinhas. Foi construído há 50 anos, idos de 1960, para abrigar os restos mortais dos soldados brasileiros. Ali foram colocadas cinzas dos soldados mortos (Juscelino Kubitschek de Oliveira
Referências
- Jornal Em Foco. Entrevista publicada em 25 de janeiro de 2011.
Nenhum comentário:
Postar um comentário