Entrevista Alexandre Augusto Gianesini
ALEXANDRE AUGUSTO GIANESINI: O entrevistado da semana é o Professor : Alexandre Augusto Gianesini; nascido aos 03 de julho de 1970; filiação: maria Wiederkehr Gianesini e Aquilino Gianesini (falecido); casado com Elanir do Nascimento Gianesini. quando pode, assiste ao jogo do Botafogo. Profissão: professor de Língua Portuguesa e bacharel em direito. Que matérias leciona e em que estabelecimento de ensino?leciono as disciplinas Língua Portuguesa e Produção de Texto no Colégio São Luiz; Leitura e Produção no curso de Direito na UNIFEBE e Língua Portuguesa na E. E. F. Paquetá.
Como foi sua infância?
ótima, com pais presentes
Sonho de criança
ser piloto de caça.
Como foi sua juventude?
Mesmo sendo de família humilde, posso dizer que tive tudo o que realmente precisei. Tive bons amigos, professores e outras pessoas que me ensinaram o que fazer e o que não fazer.
Pessoas que influenciaram?
Na minha infância, certamente a correção e a dedicação do meu pai Aquilino, a alegria e o bom senso de minha mãe Maria.
Vida escolar?
Iniciei os estudos na Escola Básica João XXXIII, depois o Ensino Médio no Feliciano Pires.
Quais as matérias que mais gostava?
Gosto de todas as relacionadas ao novo. Por isso gostava de Português pela leitura de livros; de Geografia por descobrir novos lugares e praticamente todas.
Quais as que detestava?
Nenhuma.
Quais atividades esportivas preferia na escola?
Gostava de esportes e como era franzino, me saía melhor na corridas. Além minha mãe Maria era corredora nos primeiros Jogos Abertos e me incentivava.
Como surgiu Alexandre professor?
O professor Alexandre surgiu por acaso. Digo isso, porque inicialmente cursei letras na UNIVALI, pois em 90 não havia jornalismo, que era o que pretendia. A idéia era cursar dois anos de letras e transferir para jornalismo, porém dois fatos aconteceram: acabei me interessando pela profissão de professor e o então Presidente da República da época, Fernando Collor, desregulamentou a profissão de jornalista, o que significou dizer que não havia mais a necessidade de um curso de jornalismo para ser jornalista. Na época, muitos jornalistas não possuíam o curso, como o Pedro Bial, que é formado em letras. Com o tempo, a profissão de professor sobrepôs-se ao interesse pelo jornalismo, porém mantenho o gosto pela escrita.
Quais alunos demonstram mais interesse: ensino médio ou superior?
No ensino superior, a maioria dos alunos demonstra mais interesse. Isso se deve ao fato de que há a consciência de que expressar-se adequadamente e interagir na sociedade traz inúmeras vantagens. Como se sabe, o homem é movido por interesses.
Quanto ao ensino médio, o problema está na disposição do conteúdo. Infelizmente, e isso a maioria das pessoas não sabe, a nova Lei das Diretrizes e Bases é extremamente democrática e não estamos preparados para isso nesse estágio de desenvolvimento. Dessa forma, não há por parte do governo federal uma diretriz determinando especificamente os conteúdos a serem trabalhados a cada série. Cada estado e cada município determinam o que querem; isso quando determinam. Para complementar o quadro, as esferas da educação municipal, estadual e federal, sejam públicas ou privadas, não dialogam entre si para um consenso sobre o que os alunos devem estudar. O resultado é que as instituições encarregadas do ensino superior em Santa Catarina, como ACAFE, UDESC e UFSC, acabam por ter que determinar o que é cobrado no vestibular e as escolas acabam cumprindo os conteúdos.
Aliado a esse estado de coisas, temos o sistema brasileiro que apresenta um único tipo de ensino médio — o de formação básica, o qual não é um exemplo adequado para o mundo, em termos de eficiência e eficácia no aprendizado. Por outro lado, na Europa, muitos países adotam o ensino médio com diversas formações, como a social, a biológica, a exata, e essa formação permitirá ao aluno o acesso a um curso superior específico, i. e., a biológica servirá de base para a medicina, a odontologia, a biologia, etc. A questão é que, nesse tipo de ensino médio, o estudante decide suas tendências profissionais já no início dos estudos, a partir dos 15 anos.
Aqui na nossa cidade, os professores municipais iniciaram novamente a escolha de conteúdos a serem estudados pelos alunos da educação básica municipal. Já participei da mesma escolha no início do ano 2000, porém a implementação da proposta não foi levada adiante pelo poder executivo municipal da época. Quanto ao conteúdo, sou de uma opinião simples: o aluno deve saber expressar-se com o mínimo de erros no final do ensino fundamental. Para tanto, ele deve falar, ler e escrever bastante — trabalho-base de um bom resultado. O aluno, sabendo claramente o que se espera dele e sabendo que tal conteúdo será cobrado fora da escola, certamente perseguirá este objetivo, pois, como disse, o homem é movido por interesses.
Como está a formação dos nossos estudantes?
Posso responder pelos dados aos quais tenho acesso. A chamada Prova Brasil que avalia os nossos estudantes registrou, como nota média dos alunos de 7a e 8a Séries (8o e 9o anos) dos ensinos públicos municipal e estadual de Brusque, uma nota inferior a 5,0 pontos. Esses dados parecem não ser realmente entendidos pelas pessoas e poderes do nosso município. Convenhamos é uma média baixa. Se traduzirmos para uma situação qualquer, significa dizer que de cada 100 coisas que alguém tem fazer, mais de cinqüenta são feitas erradas. Poderia se dizer que há conteúdos difíceis para os alunos, todavia a realidade é outra. Há, sim, falta de hábito de estudo. Os alunos de ensino público, em sua maioria, estudam pouco e possuem menos aulas que os alunos do ensino privado. Exemplifico com a Língua Portuguesa: numa escola pública municipal de nossa cidade, a grade curricular possui quatro aulas; numa escola privada, seis aulas. A perda de aulas acaba por refletir numa perda de conteúdo. Por outro lado, imagine você, um empresário de nossa cidade com metas de produtividade, com estudantes-funcionários com média 7,0 ou 8,0 pontos. Como seria a produção de sua empresa?
Além disso, a falta de conhecimento interfere na interação social do indivíduo. É comprovado que as sociedades com mais instrução são menos corruptas, mais justas e evoluídas e a maioria dos indivíduos possui maior consciência de como viver em sociedade.
Outro ponto que deve ser levado em consideração: apesar de faltar leitura por parte dos estudantes no Brasil, não é possível voltar ao passado e exigir o estudo somente com livros. Recentemente, a Coréia do Sul anunciou a substituição dos livros dos estudantes por Ipads. Com a tecnologia atualmente, pode-se e deve-se utilizá-la como instrumento para o aprendizado e todos os envolvidos com a educação devem saber manipulá-la.
Ser professor atualmente é uma missão espinhosa?
Eu diria que depende. Se levar em conta somente a remuneração, um professor de escola privada recebe menos que outra profissão de nível superior. No entanto este salário representa o dobro das escolas públicas, mesmo o governo federal alegando que há dinheiro no Fundeb para municípios e estados, conforme o disposto nos artigos 21 e 22 da Lei nº 11.494/2007. Se levar em conta reconhecimento, não é possível agradar a todos, e não se deve esperar reconhecimento. As pessoas têm dificuldade de agradecer ou elogiar.
As dificuldades do dia-a-dia do professor relacionam-se, muitas vezes, à pouca experiência dos administradores da educação brasileira e das autoridades envolvidas. Cito a inclusão de crianças com problemas de aprendizado ou de disciplina e a falta de apoio didático e da família para o trabalho com elas. Em muitas cidades paulistas, os Ministérios Públicos e os Conselhos Tutelares trabalham em conjunto com a escola para a aplicação de penas alternativas a menores delinqüentes. Além disso, na educação brasileira, muitos parlamentares acrescentam conteúdos por força de lei, como a lei que obriga o ensino de música nas escolas, sem levarem em conta a carga horária e a estrutura existentes. O resultado é menos aulas de Língua Portuguesa, matemática e ciências — bases para a universidade.
De qualquer forma, a profissão de professor atrai por mostrar as várias perspectivas diferentes a quem está iniciando seu caminho pela vida.
O estudo da linguagem jurídica é um dos momentos ricos de percepção da língua como instituição social, enraizada na tradição cultural que ela reproduz, transmitida de geração após geração. O que é abordado no ensino da linguagem jurídica?
A linguagem jurídica enfrenta um embate entre o que há e o que deve ser feito. Hoje é comum ouvir críticas, principalmente dos meios universitários, sobre os termos técnicos empregados no dia-a-dia do meio jurídico. Um grupo alega que tal estrutura serve mais para aparentar certa complexidade e, portanto, confundir os clientes; outros crêem que a linguagem deve ser simplificada em vista de encontrarmos ainda termos latinos em usos. Por outro lado, muitos termos não são passíveis de simplificação por causa da complexidade inerente do direito. Quando trabalho os textos jurídicos com meus alunos, procuro fazê-los compreender que o objetivo primeiro é esclarecer prontamente os fatos, apresentar o direito e realizar o pedido ao julgador de forma clara, precisa e concisa. A linguagem empregada deve seguir a gramática normativa por força de lei. O estudante, então, acabará por encontrar um ponto de equilíbrio no uso da linguagem jurídica.
Além disso, muitos estudantes de direito irão seguir carreiras públicas, com acesso por meio de concurso público, o que obriga o estudo de questões de conteúdo gramatical, como pontuação, concordância e regência, e de interpretação de texto.
As leis são feitas com palavras, como as casas são feitas com tijolos. O jurista, em última análise, não lida somente com fatos, diretamente, mas com palavras que denotam ou pretendem denotar esses fatos. Há, portanto, uma parceria essencial entre o Direito e a Linguagem?
Sim. O direito, por exemplo, pode ser líquido e certo e ocorrer risco de dano; entretanto, se um texto for mal redigido, a medida cautelar não dará o resultado esperado. O julgador se prende ao que há nos autos, aí aquela máxima dos cursos de direito “O que não está nos autos não está no mundo.”
Se não fosse professor?
Possivelmente teria uma profissão relacionada à escrita.
Referências
- Jornal Em Foco. Edição de 23 de agosto de 2011.
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