quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Marlus Niebuhr

O entrevistado da semana é o Diretor de Patrimônio Histórico do Município de Brusque, Professor Universitário, Pesquisador, Historiador Marlus Niebuhr, natural de Brusque, nascido aos 18 de novembro de 1966. Filiação: Rigon Eriberto Niebuhr e Maria Sapelli Niebuhr. Cônjuge: Tatiane Krüger Niebuhr; filhos: Israel e Gabriel. Torce nas lembranças,  o Flamengo de Zico é uma recordação de uma bela época, dos grandes jogadores, das rivalidades de colégio, bem diferente das manchetes atuais.



Marlus Niebuhr.
Sonho de criança?
Fazer a diferença, contribuir com a comunidade.
Pessoas que influenciaram?
Foram muitas. Acredito que somos forjados nos encontros e desencontros de nossa vida. As lições valiosas de nossos pais, os colegas de colégio,  as amizades na faculdade, os professores do Curso de História da Univali, os professores do Colégio SãoLuiz, que acabei revendo quando voltei ao Colégio como professor. No entanto, quanto ao Colégio São Luiz, cabe destacar a figura do Padre Orlando Maria Murph, que foi um dos meus professores de História. Poderia citar outros tantos professores e pesquisadores, que conheci nos eventos que participei. É muito difícil citar nomes,  no entanto, Tati, minha esposa e  meus filhos tem me ensinado muito ao longo dos anos.
Histórico escolar?
Na média. Nunca fui um aluno excelente. Era apaixonado pela história, ficava horas imaginando a cultura e o cotidiano dos povos de outras épocas. Gostava de escrever e especialmente das aulas de  literatura.  Como é fácil de perceber, as ciências exatas não me atraíam, especialmente a matemática acredito que isto é comum aos historiadores...
A importância do Departamento de Patrimônio Histórico?
É um marco para a história de Brusque. O departamento desenvolve uma política pública  de preservação, que teve início no ano de 2009. No entanto, devo confessar que este projeto deveria ter sido desenvolvido na década 60: na ocasião  a cidade poderia ter criado um diferencial, que hoje não só daria visibilidade a Brusque, como também seria referência no turismo e na valorização de nossa cultura. Hoje, o departamento se envolve em várias áreas como: o Conselho de Patrimônio Natural, Histórico e Artístico Cultural,  com as memórias e o patrimônio imaterial,  com os Museus, com o Arquivo Histórico, com o projeto da "Sala Brusque", com o desenvolvimento da "Sala Brusque Virtual", que é nossa enciclopédia virtual.  Também acabamos de lançar mais dois projetos o "Museu Aberto" e os "Caminhos da História". Ainda, atuamos e prestamos assessoria a vários projetos que envolvem à história de nosso município.
Uma palhinha sobre cada uma das obras?
“Ecos e sombras”: O livro nasceu de minhas pesquisas de Mestrado na Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Foi uma experiência gratificante, as primeiras entrevistas, o desvendar do mundo dos operários têxteis de Brusque. Perceber as dificuldades, os sonhos destes trabalhadores que ergueram nossa cidade, foi, sem dúvida, um momento valioso. A dissertação, ainda não em forma de livro, foi muito bem recebida na universidade e tive a honra de contar em minha banca de defesa, com a presença da professora Doutora Margareth Rago da UNICAMP / SP. O material  foi posteriormente publicado pela Editora da UNIVALI.
Memórias de Porto Franco... Botuverá: a sua história: O projeto nasceu no Centro de Documental Oral e Memória- CEDOM, da Unifebe. Seu objetivo,  era valorizar a história de Botuverá, registrando a memória de seus habitantes. Foi um trabalho difícil, que envolveu várias etapas. Fica na minha memória o valioso aprendizado que tive com todos os idosos que entrevistei. Suas histórias marcaram minha vida de várias maneiras diferentes, em alguns pontos do livro é possível perceber estes sentimentos. Não poderia esquecer a equipe valiosa do CEDOM, foi uma época maravilhosa de minha vida profissional.
Brusque 150 anos: Tecendo Uma História de Coragem: Foi audacioso, tive conhecimento do projeto em novembro de 2009, as portas da comemoração dos 150 anos de Brusque.  Mas, a possibilidade de contribuir com a história da cidade falou mais alto. O desenho do livro, ou seja, os passos de pesquisa, foram elaborados e chamei uma equipe formada por ex-alunos do Curso de História da Unifebe, Robson Gallassini, Regiane Pedrini Fischer, Graziela Maffezzolli e Carlos Eduardo Michel,  que havia se formado na Univali. Eram professores, tinham gosto pela pesquisa, e toparam o desafio. Iniciamos o trabalho em janeiro de 2010, com a pesquisa em documentos, livros, fontes orais... A pesquisa demorou meses e a escrita foi ainda mais complexa. Orquestrar este trabalho foi um  desafio. Mais tarde, para contribuir e desenvolver outros temas, outros ex-alunos participaram do projeto, como Karina Santos Viera Schlickmann, Meire Anne Hoeppers Ruiz. E também colegas de pesquisa, como o professor José Bento Rosa da Silva,  o escritor João Carlos Mosimann, também Luciana Paza Tomasi.  Acompanhei o trabalho com imagens, e a diagramação final do livro, que ficou aos cuidados historiador Álisson Sousa Castro. No entanto, muitos participaram deste projeto, e seus nomes ficaram registrados no livro, agradeço também a eles.
O que se objetiva efetivamente com “A sala de Brusque?
Seu objetivo principal é gerar um arquivo público municipal, um centro de referência e auxílio aos pesquisadores e casas museais de Brusque.
Como surgiu o Marlus professor, historiador e escritor?
Foi natural, sempre gostei de história, desde cedo no colégio. Era um entusiasta da leitura, frequentava muito a biblioteca, meu pai gostava muito de ler, principalmente romances.  Na faculdade, despertei para a profissão de professor: descobri com o tempo que amava ensinar, era fascinante discutir e debater com os alunos.
Como surgem as ideias para selecionar o assunto a ser transformado em obra (livro)?
Diria de forma simples: é uma pergunta, uma indagação do tempo presente, que nos faz viajar ao passado...
Como procede nos levantamentos de dados para preparar uma obra (livro)?
Cada livro tem uma história. O livro "Ecos e Sombras", foi uma pesquisa solitária. Já a pesquisa para o  livro "Memórias de Porto Franco", aconteceu com a equipe do Cedom, todos trabalhavam. Destaco Honório Bertolini, colega professor, Cintia Cardoso e Yulilah Mello Antunes Krieger, acadêmicas do Curso de Filosofia da Unifebe, e colaboradoras do CEDOM, e Edu Gevaerd Neto, acadêmico do Curso de História. Neste caso, também os amigos da prefeitura de Botuverá, Zelita Tachinni e Francisco Colombi. O ato da escrita, no entanto, foi solitário.  O livro "Brusque 150 anos", refletiu todo um planejamento que tive que preparar, foram muitas reuniões, levantamento de temas, datas, comparação com outros livros, levantamento de imagens, revisão de textos, coordenação geral de toda a pesquisa. No final, o livro foi composto por  vários textos, que se interligam para contar a história. Devo frisar que estes livros seguem um padrão de pesquisa, um rigor científico.
Ao escrever a memória operária, o fato de seu pai ter sido um deles, motivou mais a escrever com afinco aquela obra? Antes de iniciar as pesquisas, não era um assunto que aparecia em nossas conversas. Minha referência era de um pai desenhista, de um talentoso pintor: o operário  surgiu das pesquisas. Quando resolvi escrever, sua primeira reação foi de preocupação, pois o tema era delicado, estava contando uma história de uma greve. Depois, virou um entusiasta do trabalho, participou de muitas entrevistas, mas infelizmente não chegou a ver o livro acabado. 
Como foi a experiência na coordenação do CEDOM, na Unifebe?
O Centro de Documentação Oral e Memória -CEDOM, foi um projeto que virou realidade. Um projeto que cresceu junto com a Unifebe, pois foi um valioso tripé de fortalecimento para a criação do Centro Universitário: a pesquisa, extensão e ensino. Desde a criação do centro de pesquisa em 1997, o trabalho trouxe muitos frutos para Brusque e para a Unifebe: rendeu um livro "Memórias de Porto Franco", uma revista e vários artigos científicos publicados em revistas especializadas, palestras e participação em eventos estaduais, nacionais, internacionais. Também, contribuiu com o projeto de criação do Curso de História  e iniciou um arquivo de memórias: com várias entrevistas e um arquivo de imagens, que foram cedidos à universidade. Desenvolvemos trabalhos em Botuverá, Nova Trento e em várias localidades de Brusque.
E como foi a experiência de ser professor na Univali e na Unifebe?
Gratificante. Continuo professor da Univali, nesta instituição leciono a quase 25 anos como professor de diversas disciplinas: atuei no Curso de Estudos Sociais, no Curso de Publicidade e Propaganda, no Curso de Jornalismo, e continuo no Curso que iniciei minha jornada na Univali,  como acadêmico e depois como professor: o Curso de História. Na Unifebe atuei no Curso de Filosofia, no Curso de Estudos Sociais e no Curso de História.  A experiência de lecionar na universidade é um desafio, todo semestre é uma história diferente, novas turmas, outro perfil de acadêmico. Nestes anos, com as rápidas alterações no campo tecnológico, as relações em sala de aula mudaram muito, o professor tem que estar sempre atualizado, com forte base teórica.
E a coordenação do curso de história, nas mesmas entidades?
A tarefa de coordenador de curso é extremamente desgastante. Principalmente com as mudanças que as instituições estão sofrendo. É uma grande responsabilidade. O coordenador tem que "sentir" seu curso, avaliar os problemas rapidamente e buscar soluções. A parte administrativa e financeira, também recai sobre seus ombros, sua tarefa é ser um "elo" entre administração superior, professores e acadêmicos. Cada grupo tem seus objetivos, e o coordenador deve manter o foco para equilibrar suas ações. Na Unifebe fui ativo participante na criação do Curso de História e no processo de reconhecimento do mesmo - foi um grande desafio. Na Univali fui coordenador do curso presencial e participei da implantação do Curso de Educação à Distância - EaD, foi uma experiência complexa, com um novo instrumento de ensino,  aulas que no início foram "ao vivo", em estúdio em Biguaçu. Coordenar as atividades nos vários pólos da Univali, como Itajaí, Tijucas, Piçarras,Camboriú, Biguaçu... Preparar estas aulas, a equipe de professores, e aprender uma nova dinâmica de ensino, como disse, foi muito complexo.
Como é ser Diretor de Patrimônio Histórico na Fundação Cultural de Brusque?
É desafiador. Todo projeto inovador nos leva aos nossos limites. Fiquei lisonjeado com o convite do nosso Prefeito, na época atuava como coordenador de Curso de História da Univali. Abdiquei desta função para iniciar este projeto, havia um forte desejo de desenvolver uma política pública de preservação em nossa cidade, sem dúvida foi um momento histórico.  Como o departamento não existia, tratei de planejar e desenvolver um plano de ação, mas por nenhum momento pensei que seria fácil. Logo de inicio, nossas ações foram voltadas para os festejos dos 150 anos de Brusque em 2010, como: o desenvolvimento do livro, a "Mostra Brusque", o desfile de aniversário, e várias outras. Fizemos um inventário de nosso patrimônio, depois atuamos na criação do Conselho de Patrimônio, mais tarde o Catálogo  de Patrimônio, e agora estamos desenvolvendo ações de educação patrimonial. No entanto, nossa cidade carece de uma visão de preservação, foram muitos anos seguindo outra cartilha... Agora enfrentamos grandes dificuldades nessa área, mesmo apresentando projetos e alternativas a resistência é enorme. Tenho trabalhado em projetos de educação patrimonial, para tentar criar este espírito de preservação nas novas gerações.
Como é ser Presidente do Conselho do Patrimônio Natural, histórico e Artístico Cultural ?
Esta pergunta completa a anterior. Em poucas palavras, devo explicar que fui eleito pelos conselheiros, não era meu desejo. Como ocupo o cargo de Diretor de Patrimônio Histórico na Fundação Cultural, não queria que fosse criada um certa confusão entre os cargos. Ser escolhido como Presidente pelos conselheiros foi uma honra, significa coordenar as atividades, zelar pelo bom andamento do Conselho. Nossa grande vitória foi a entrega da Lei do Patrimônio no final do ano passado e na noite de 12 de dezembro de 2012, o 1º tombamento de Brusque, o prédio do Tiro de Guerra.
Um resumo de sua trajetória pessoal e profissional
Continua sendo uma trajetória instigante. Foi um presente de Deus ter conhecido tantos profissionais, ter ampliado meu conhecimento, atuar como professor, como pesquisador e gestor de diversos cargos na universidade. Como Diretor é uma experiência muito rica e agradeço a oportunidade que tive. Foi gratificante, publicar três livros, e saber que um deles já foi traduzido para o alemão e aguarda publicação, é uma honra. Quanto à minha família, é difícil imaginar ter conseguido chegar onde cheguei sem a presença deles, Tati, Israel e Gabriel, são fontes diárias de amparo, proteção e amor.

Referências

  • Entrevista veiculada no Jornal Em Foco em 12 de abril de 2013.

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