Por que Zé Navalha?
Nos idos de 53, cheguei em casa pela meia noite ou uma hora da madrugada. Vi que a luz estava acesa na casa do vizinho Henrique Zirke – pai do sr Vino, o sapateiro – fui lá, estavam jogando cartas, quando cheguei o Henrique Mello, estava nervoso, porque estava perdendo e logo disse: “ vá embora”, respondi que não iria. Ele insistiu, peguei a navalha e toquei no pescoço dele, a sorte é que ele agachou-se e levou a navalhada na testa... aí pegou o apelido Zé Navalha.
Foi restabelecida as relações de amizade entre o senhor e o Henrique Mello?
Antes de falecer ele fez as pazes comigo.
Como surgiu o tricolor das laranjeiras em sua vida?
Não torcia para Clubes do Rio de Janeiro, fiquei torcendo para o tricolor das laranjeiras desde o Centenário de Joinville. Fui num restaurante almoçar e não tinha mais lugar. Ai um integrante da comitiva do Fluminense observou e convidou-me para sentar na mesa com eles. A partir desta, comecei a ser tricolor.
O senhor exerceu o cargo de Oficial de Justiça ? Em que época?
Fui Oficial de Justiça, entre 1942 e 45, fui nomeado pelo então Governador Nereu Ramos; foi na época que o Prefeito era Germano Schaefer.
Havia mais alguns Oficiais de Justiça?
Sim, havia o Egídio Ferreira de Mello.
Quem era o Juiz de Direito? E o Promotor?
Era o Dr Albino de Sá Filho. O Promotor foi... não consigo lembrar.
Nos Cartórios?
Dodô Gevaerd e o Willy Kormann, que depois passou para o saudoso Bruno Moritz.
Como eram distribuídos os mandados entre vocês dois?
O Egídio cumpria os mandados dos Feitos da Fazenda e eu, os do Cível e Criminal.
Como se deslocavam para cumprir os mandados?
Eu ia com o carro do Prefeito Germano Schaefer, que era conduzido por Jose Vandaus.
Muitos mandados?
Razoável... mandados de despejo, de prisão e outros.
Onde estava localizado o Fórum?
Na antiga Prefeitura, ali nas proximidades da Praça Central.
Por que desistiu de ser Oficial de Justiça?
Desisti de ser Oficial de Justiça em decorrência de cumprimento de Mandado de despejo, que fui fazer na casa de um Veterinário, um tal de Sr Quinol, que havia perdido a esposa eletrocutada, ao ir estender roupa no varal, não sei bem o que houve, parece-me que encostou num fio. Quando cheguei para cumprir o mandado a menina – filha dele – falou “ não chega ter perdido a mãe, agora também a morada?”. Aquilo me cortou o coração, chegando a correr lágrimas de minhas vistas. Cumpri o mandado, levando as crianças no Hotel Merico, ao lado do Honório Miranda e, retornei ao gabinete do Dr Albino e pedi exoneração.
Como foi aquela história do Dr Nica estar saindo da boate de manhã cedinho?
É que o Dr Nica ia bem cedinho para fazer exame para verificar doenças sexualmente transmissíveis nas mulheres da boate, e esse exame tinha que ser feito antes delas tomarem banho. Um belo dia passou um conhecido e gritou: “Até o Sr na zona até essas horas”.
A mulher de um saudoso empresário, em certa oportunidade foi buscá-lo na boate?
Um saudoso empresário dava uma voltinha à tarde, Quem levava ele era o Tensini, que tinha um bar nas proximidades da Ponte. Em certa ocasião chegou o irmão dele – que era um político influente – dizendo que a esposa do empresário estava vindo armada para buscá-lo. Quando olhei para fora estava ela dentro de um táxi, rapaz... ele mesmo tinha acabado de sair. Ela veio até à porta e disse “cadê o meu marido?” e eu respondi “aqui ele não está” e, diante da insistência dela abri a porta e ela foi verificar e de arma em punho.
E a Banca de Revistas?
A Banca sortia com diversos tipos de revistas. O filho Getúlio cuidava e ficava em frente de onde estava localizada a Caixa Econômica Federal, na Avenida C.C. Renaux, mais tarde, transferi para a proximidade do Babalú.
Algum fato curioso em relação as revistas colocadas na banca?
Bem me lembro, certa feita chegou o Padre W e me chamou ao lado e sussurrou que colocando certos tipos de revistas estava pecando, quando respondi que precisava ganhar meu pão para sustentar a família. Esse Padre, depois descobri aproveitava-se da saída do marido de uma evangélica, no horário do meio dia, quando o mesmo (marido) ia a Blumenau buscar verduras e outras sortimentos para a sua “casa de negócios” – e deitava com ela. Não deu outra quando descobri peguei ele e dei um sermão, nunca mais veio falar das revistas que eu vendia.
E a casa de jogos?
Tive por aproximadamente 10 a 12 anos, a casa de jogos – carteado – inicialmente, ficava localizada nos fundos de Izidoro Mafra, depois, encima do Bar do Valdemar, que ficava localizado encima das Casas Pernambucanas.
Em que escola fez seus estudos?
No Feliciano Pires. A mãe do Ciro, a Leonor Grott, e o Dr Nica foram meus colegas de classe.
Como surgiu a boate Zé Navalha?
Vínhamos eu e o Adalberto Olinger de Blumenau, e demos carona para duas mulheres, a certa altura falei “ esta bom de colocar uma casa com mulheres”, não é que a ideia vingou. Logo depois, iniciamos a casa com três mulheres, as duas que vinham de carona e mais uma baiana.
Mas a média de mulheres na boate era bem mais?
Ah sim, de 15 a 20 , e uma certa oportunidade, contando com 20 mulheres chegaram mais 19, numa Kombi de Foz de Iguaçu. Mas não fiquei com elas, eram viciadas.
Como pagava as mulheres?
A bebida e o aluguel do quarto era da casa e o programa era com elas.
E na sequência de onde vinham as mulheres?
Tinha um baiano que trazia as mulheres de madrugada, ele chegava e dizia: “chegou a sua encomenda”.
Onde ele conseguia as mulheres?
Naquela época, as mulheres ficavam à beira da estrada e levantavam o vestido, a maioria sem calcinha e ele, conversava elas e não dava outra, trazia para a boate.
Por quantos anos teve a boate?
Por mais de 20 anos, sendo por década – de 61 a 71 – ali próximo da Ponte Clara Rosvita Torresani (imediações do Sr Arthur Kohler) e aproximadamente 12 anos na Rodovia Ivo Silveira, uma vez que o local anterior era muito central.
O Brasil tem jeito?
Tem. Só depende dos governantes... com um potencial destes! É preciso ter cuidado. Não viverei para ver, mas o Brasil daqui uns 40 anos será uma das maiores potências.
E a administração Ciro Marcial Roza?
É o pessoal irá sentir saudades... veja se não fosse a Beira-Rio, com toda essa água que caiu em novembro.
Exerceu outras atividades além de Oficial de Justiça, a Banca de Revistas, Casa de Jogos e a Boate?
Fui tecelão na Fábrica Renaux, corretor de seguros (São Paulo Cia. De Seguros). Em 89 passei a Segurança da Marisul (do Ciro), galpão localizado na Otto Renaux, e aos 80 obtive o benefício previdenciário, todavia continuo, mesmo no alto de meus 94 anos, na luta como Segurança, para alguns cidadãos ali próximo da Igreja Cristo-Rei.
Referências
- Jornal Em Foco. Entrevista publicada em 06 de fevereiro de 2009.
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