Entrevista José Francisco de Souza
Filho de Francisco José de Souza e Regina Amorim de Souza, natural de Major Gercino, nascido aos 25.11.37. Eram em 11 irmãos: 4 faleceram na infância – vivem ainda: Maria, Felomena, Antìdes, Nadir, Imerinda e Laudeci. Cônjuge: Terezinha Maria Turnes, casados em 08.07.61; seis filhos: José Mário, Jeanete Terezinha, Jeane Regina, Jocimara, Jovane, Jocelito Nicola; sete netos: Vinicius, Carolina, Clara, Camila, Bruna, Anna Beatriz e Jeorgia. Torce pelo Santos e Botafogo. Quando veio para Brusque? Como foi o início?Cheguei em Brusque vindo do interior, aos 14 anos. Iniciei minha vida profissional como servente de pedreiro. Trabalhei na construção da Igreja Matriz como Mestre de Cantaria, por 8 anos. Éramos em três profissionais; posso garantir que um terço das pedras que se formam os paredões passaram por minhas mãos.
Atuou como atleta? Em que equipes?
Fui goleiro do Paquetá, por algum tempo.
Como foi a sua vida profissional?
Ingressei na Biblioteca Municipal Ary Cabral , como experimental em 24 de abril de 64 e, nomeado Bibliotecário em 66, ali permaneci até aposentar-me em 88. Paralelo as atividades da Biblioteca ingressei a partir de 70, como Professor primário – do Estado, função exercida por 4 anos. Em 75, registrei uma Empreiteira de Obras em construção, atividade que durou por mais 5 anos, para na sequência abrir uma marcenaria, exercendo até 88, ocasião em que abri uma indústria até hoje em funcionamento –CONARTE – Indústria Comércio de Telas Artísticas, hoje uma das maiores do gênero no sul do Brasil.
Como conseguiu implantar a idéia de política estudantil?
As aulas tinham início as 18,30 horas, as 17 horas de segundas as sextas-feira, meu colega, Eli Severino e eu estávamos apostos, dando vazão ao nosso ideal. Ressalte-se que em 1964, fora eleito Presidente do Grêmio Estudantil 8 de março e reeleito no ano seguinte, depois cassado em 65, pelo AI-5, como Vice-Presidente da UEB. Creio que tenha sido essa minha iniciativa e tantos outros pequenos eventos, inclusive para arrecadar fundos para a manutenção do próprio ginásio, que levaram os integrantes da criação e instalação da Biblioteca Ari Cabral, a julgar-me capaz de encontrar uma fórmula mágica, que pudesse transformar aquele pouco que possuíamos, em uma biblioteca funcional e próspera. Já que fui convidado a chefiar a equipe.
Então aceitou o convite formulado? Como ficou o relacionamento com as duas funcionárias?
Sim, convidado para chefiar a equipe, aceitei e, juntando-me as duas funcionárias já existente, aceitara, com satisfação e entusiasmo a missão. Porém, não contava dar início aos trabalhos já pisando em espinhos. Pois, em respeito a essas duas senhoras, não pressenti a possibilidade de feri-lhes o orgulho e dei-lhes razão, pois ambas já haviam cursado o segundo grau e eu ainda me arrastava bem mais abaixo, em uma segunda série ginasial. E acabei só. Só e mal acompanhado, pois os meus viventes mais próximos eram tão somente uma amontoado de livros usados e uma máquina de escrever, que mais parecia uma engenhoca do início do século. Assumi as funções em fase de experiência, no dia 24 de abril de 64 e em definitivo por concurso em maio de 66.
Como surgiu a Biblioteca Municipal, legalmente?
Por força de uma lei editada pelo Ministério de Educação e Cultura –MEC – aprovada e sancionada em 62, impôs aos municípios que contassem com uma população superior a 10 mil habitantes, a obrigatoriedade de implantar e manter em funcionamento uma Biblioteca Pública Municipal, consequentemente, para dar cumprimento a essa lei, é que na data acima, fora criada, em nosso município, a Biblioteca Pública Municipal Ari Cabral.
O acervo? A organização?
Contava, no ato inaugural, com uma acero de aproximadamente 300 livros, sendo que um terço, considerados aproveitáveis. Os trabalhos de triagem e organização ficaram a encargos de duas funcionárias designadas pela Prefeitura, todavia, desprovidas de conhecimentos adequados para as funções a que foram incumbidas, ou seja, sem condições de funcionamento a uma Biblioteca – era mais um depósito de livros usados. Sem pessoal qualificado e sem recursos financeiros e local inadequado, em total desarmonia, música e leitura, livros e instrumentos musicais.
Como alterou esse quadro desfavorável?
Iniciava só, porém de certa forma com veemência, pois poderia tentar pôr em prática inúmeras idéias que me houveram ocorrido. Uma delas e certamente a principal, seria a de buscar orientações referentes à organização e manutenção de uma Biblioteca, e fora o que fizera. E aí surgira novo dilema: conseguir recursos suficientes para custear um curso, mesmo que curta duração, de biblioteconomia. Aportara na Prefeitura e apelara para o então Prefeito, o saudoso Cyro Gevaerd. A resposta fora não. No dia seguinte retornara novamente e com uma nova proposta, sugerir ao Prefeito, liberar-me do comparecimento ao trabalho o tempo necessário e assim poder realizar o meu primeiro intento. As despesas correriam por minhas expensas. Acolhera a sugestão. Na época, já conhecia a Biblioteca Municipal Fritz Muller, de Blumenau e também mantivera, semanas antes, contato com o saudoso Professor e competente Bibliotecário José Ferreira. Eu o procurara de imediato. Me acolhera como se fôssemos velhos e bons amigos. O importunara até sentir-me preparado para poder enfrentar e executar com segurança e presteza, todas as tarefas naturalmente impostas por contingência de praxe. Catalogação, organização de fichários, maneira adequada de colocação das obras catalogadas nas estantes e tantos outros macetes exigidos pela profissão. E de quebra, me presenteara com um obra completa sobre Biblioteconomia.
E quanto ao material de expediente e o aumento do acervo de livros?
Outro desafio seria conseguir livros e materiais suficientes, para dar início aos trabalhos. Com respeito ao material: papel, fichas, lápis, canetas etc, não houveram nenhum problema. Me foram cedidos com toda presteza. Porém, falar em dinheiro para aquisição de livros, era terminantemente proibido. Mas como já liderava na época, até com certa ênfase, uma boa parcela da força política estudantil brusquense, não me fora difícil utilizando-me do modesto prestígio, e minha engenhoca de datilografar, bater um ofício-circular aos presidentes de grêmios e diretores de Colégios do Município, solicitando-lhes o engajamento em uma campanha de doações de livros, para a recém fundada Biblioteca. A campanha fora um sucesso. E findo um ano, já contava com um acervo de aproximadamente 4 mil livros. Toda cidade aderira a idéia. Até o Prefeito da época, argumentara, sentir-se diminuído em seu prestígio, ao constatar tal resultado. Grande contingente de diversas classes sociais do Município, aderira iniciativa: Clubes de Serviços, Colégios, Estudantes, Professores, Particulares, Comércio, Indústria etc, juntamente com as gentis doações, uma boa parte eram em livros didáticos. Precisávamos, portanto, encontrar um meio de aproveitá-los. Fora aí então que sentira a possibilidade de ser poder criar, uma banca de permutas, onde as pessoas interessadas em livro didático, que se adequasse às exigências ditadas pela escola a que freqüentavam, doassem à Biblioteca uma ou mais obras que não fossem didáticas, recebendo em troca livros didáticos, de acordo com suas necessidades. Mais uma iniciativa bem aceita.
Com relação ao episódio do AI-5?
Depois do episódio do AI-5, ficara de certa forma, um tanto desorientado e algum tempo sem ação. Pois, como sabemos, à época era de repressão. Motivo justificável para que as pessoas que até então agiam abertamente a favor de qualquer iniciativa minha, creio que com receio de algum comprometimento meu, que viesse a prejudicá-las, caso me envolvesse politicamente, contra as normas repressivas da ditadura militar, foram aos poucos se afastando. Novamente só, logicamente as circunstâncias do momento, me levaram a buscar novos caminhos.
Buscou outras alternativas?
Alternativas não faltavam. Uma delas certamente a mais prática, porém a mais difícil, seria tentar fazer com que a Prefeitura cumprisse com as determinações da Lei, que a obrigava destinar à Biblioteca implantada a aplicação de 5% da verba destinada ao Departamento de Educação e Cultura do Município, na inovação e enriquecimento de seu acervo. Satisfeitas as exigências da Lei, comprovada em notas fiscais, a aplicação dos referidos recursos e enviadas essas notas ao MEC, processo que deveria se repetir anualmente, recebíamos em compensação, uma remessa a cada ano, de aproximadamente 400 livros. Fora vã a tentativa.
A insistência alterou o quadro negativo ou agravou mais?
Agravou mais a situação, minha insistência servira tão somente, para dar início a uma guerra fria entre a Biblioteca e a Prefeitura. A Biblioteca, em hipótese alguma, poderia deixar de receber tal oferta e a Prefeitura por mais que se tenha argumentado, jamais cedera à pressão. Aplacados os ânimos, fora em busca de nova alternativa. Propusera então ao Prefeito, que toda compra efetuada em livrarias da região, referente a materiais para a Prefeitura, fossem exigidas notas fiscais, até atingir os devidos valores de 5 % do já aludido orçamento e preenchidas, em nome da Biblioteca Pública Municipal e constando em pauta, aquisição de livros, ao invés de materiais para escritório. Fora com esse procedimento um tanto espúrio, sem dúvidas, mas necessário, que a Biblioteca passara a receber, regularmente do MEC, o que por lei lhe era devido. E quanto a soma dos valores das notas não atingiam a devida soma, apelávamos para os livreiros locais, a fim de conseguirmos notas frias, para completarmos os valores e assim satisfazermos os ditames da Lei. E por conseguinte, não deixarmos de receber o que nos era de direito,
A peregrinação da Biblioteca Pública Municipal até instalar-se na FIDEB?
Fundada e inaugurada em 1963, instalada, provisoriamente, no subsolo de um casarão antigo, no início da Av. Cônsul Carlos Renaux – local onde funcionava também, provisoriamente, a Prefeitura Municipal de Brusque. Levada no início de 1964, para o Conservatório de Música de Brusque, prédio do Sr Érico Krieger, localizado na Travessa Guilherme Krieger, andar superior, onde permanecera por 2 anos. Em 1966, mudara para um pequeno edifício na rua Adriano Schaefer, de propriedade do Dr João Antônio Schaefer. Para em seguida, isso em 1968, ser instalada na sobre-loja da recém inaugurada Prefeitura Municipal construída na Praça Barão de Schneeburg, hoje sede do Banco Itaú. Em 1976, fora transferida para o andar superior do prédio, então ocupada pelo BESC, edificado na rua Ruy Barbosa, sala onde funciona hoje a Exatoria Estadual. Alegando afundamento da laje-piso da sala onde estivera instalada, motivo não justificável, pois acredita-se que tal fato fora arranjado por pressão do próprio BESC, fora em 1981, despejada e largada no hall da entrada da Prefeitura, ali permanecendo por seis meses com completa inatividade. Em seguida a entocaram, em um pequena sala de espera anexa ao Pavilhão da FIDEB. Amontoada em uma repartição de aproximadamente 50 m2. Permanecendo ali, por quase dois anos. Para ser mais claro, até a inauguração do prédio já em construção que abrigara até há pouco a Câmara de Vereadores e, onde permanece e esperamos por tempo determinado. Chegando assim, ao fim de tão cruel e sofrida peregrinação.
Por quê o nome Ari Cabral?
A Biblioteca Municipal recebeu o nome de Ari Cabral –pai de Osvaldo Rodrigues Cabral – em homenagem prestada a Osvaldo Rodrigues Cabral, catarinense ilustre, nascido em Laguna aos 11.10.1903; Doutor em Medicina em 1929, deixando várias obras publicadas, inclusive “Brusque, Subsídios para a história de uma Colônia nos tempos do Império”.
Quem auxiliou na Biblioteca?
Passaram pela Biblioteca durante meus 24 anos de função, como companheiros e companheiras de trabalho: Edla Rauen Schaefer, Osnildo Geraldo Martins, Ana Rocha Hassmann, Sandra Klabunde Diegoli, Inês Mafra, Ivilize Hingst Morsch e Maria Lúcia Pedrini Deichmann.
Fatos marcantes? O que mais marcou toda minha existência de forma profunda, foi a morte do filho José Mário. Além de primogênito, era também meu grande amigo e companheiro para todas as horas. Outro fato marcante, foi o falecimento de minha mãe, que não deixou, é claro, de ter seus efeitos dramáticos por muito tempo.
Hobby?
E tenho alguns: Arte em geral, principalmente pintura à óleo sobre tela; gosto de música lírica e clássica, também de um sertanejo tradicional. Sou vidrado em esporte, especialmente jogos internacionais envolvendo o Brasil e torcendo pelo Santos em São Paulo e, Botafogo no RJ.
E o que faz José Francisco de Souza, hoje?
Além da CONARTE, dedico-me: - a pintura artística, hobby que me fascinava deste garoto, - e aos meus 7 netos, onde busco forças para continuar lutando pela vida.
Referências
- Jornal Em Foco. Entrevista publicada em 01 de agosto de 2003.
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