A
hora e a vez de Luigi Maurizi
Filho
de Maria Steiner e Arthur Maurici, Luigi Maurizi nasceu com o nome de
Edson Luiz Maurizi em Brusque, em 23 de fevereiro de 1957. Fundador
da ABLA – Academia Brusquense de Letras e Artes –, frequenta
escolas, varais literários e profere palestras. Tem sua poesia
semeada em 20 livros, sendo o primeiro deles “Brotos de Amor”
(1981) e o mais recente “Relicário” (2013). Ele também semeou e
já colheu seu primeiro livro em prosa, a segunda biografia de Lilli
Steffens, “Os Pés da Libertação” (DOM, 2013).
Luigi
Maurizi é considerado “um artesão da palavra, um talento raro que
foi revelado no meio literário de Santa Catarina na década de 1980,
quando nos foi apresentado pelos versos impactantes de ‘Brotos de
Amor’, em 1981”, escreveu o editor Saulo Adami na apresentação
de “Brisa de Acasos” (DOM, 2011).
Para
Rita de Cássia Oliani, da Academia de Letras de Balneário Camboriú:
“Cada poesia de Luigi Maurizi é um inventário das experiências
cotidianas com os outros, com o mundo e consigo mesmo. O momento que
me toma é a descoberta de verdades que podem ser as suas próprias
verdades, mas que me afetam e me comovem. Ele não finaliza suas
inspirações, mas as deixa ali para que a toquemos e volta a
qualquer momento, refazendo tudo, como um camaleão”.
Nesta entrevista, Luigi
Maurizi fala sobre sua carreira e sua vida, e relembra os primeiros
tempos de sua produção literária.
Quando surgiu seu
interesse pela literatura, e principalmente sua vontade de se
expressar através da poesia?
A partir do momento em que
comecei a escrever pequenos fragmentos que se originavam de fatos
vivenciados, e que de alguma forma me causavam uma reação
diferenciada. Passei então a guardar essas pequenas relíquias que
originaram, depois de algum tempo e relutância, no primeiro livro
“Brotos de Amor” (1981).
Quais os autores que
(eventualmente) o inspiraram ou de fato influenciaram a tua criação?
Minha preocupação desde a
primeira obra foi a de não me deixar influenciar por outro estilo
senão aquele ao que me havia proposto: um estilo próprio. E por
isso não tenho nenhuma vergonha em dizer que poesia, naquele tempo,
era pra mim uma proibição. Meu medo de seguir caminhos que não
aqueles que eu mesmo tivesse construído era muito temeroso. Então
criei meu próprio estilo, e sempre de forma “existencial” expus
meus versos. Somente muito mais tarde, quando já na Academia, me
forcei a vasculhar esse belo universo da poesia alheia.
Como era o cenário
literário de Santa Catarina à sua volta, nos primeiros tempos como
autor? Havia maior entrosamento entre os autores que hoje?
Em 1981, quando lancei meu
primeiro livro, não tinha contato algum com outros autores. Quando
procurei um dos maiores poetas de Santa Catarina para um parecer,
simplesmente fui ignorado, e isso me causou um profundo desânimo.
Mas resolvi que haveria de atingir minha meta, e então procurei
pessoas que prontamente responderam ao meu pedido, mas não eram
ligadas diretamente à literatura, e sim à educação. Depois disso,
mudando para Itajaí, lancei o segundo livro, “O Outro Lado”
(1986), mas também sem nenhum acompanhamento daqueles que se
ocupavam com a literatura catarinense. Hoje, os tempos são bem
diferentes, com o advento de leis de incentivo à cultura que
permitem a viabilização de projetos. Se bem que eu não me ocupo
dessas artimanhas, mas vejo que muitos autores estão se revelando
por esses meios. E ainda que a classe não seja tão unida, vejo um
futuro bem mais promissor pra todos, já que a Imprensa é nossa
grande e maior aliada.
Houve um período na sua
carreira literária no qual você deixou de publicar. Estava nos seus
planos deixar de publicar em definitivo ou deixar de produzir
literatura?
Estranhamente nada aconteceu
com o fato de ter lançado dois livros, e em nada fui incluído
naquele tempo, e passei a me dedicar à profissão e à família que,
na época, era tudo que me enchia de prazer e realização, ao
contrário da literatura. Fiquei assim então envolvido com outros
projetos que também rendem até hoje seus frutos, e somente após 18
anos resolvi, casualmente ou com saudades, reeditar o segundo livro,
incentivado por pessoas ligadas à cultura e literatura. Tais pessoas
trouxeram-me ao convívio real e benfazejo, ao ser realmente
agraciado e passando a colher frutos plantados tanto tempo antes. Foi
então que o retorno me fez ser um poeta assíduo e responsável com
esse público que se revelava.
Qual sua motivação para
publicar? E por que publicar?
A poesia, a partir de um
tempo, assim como aquilo que me motivava a escrevê-la, passaram a
ser a motivação dos meus dias. E a partir de então tudo é poesia,
ainda que durante esse tempo todo tenha muitas histórias tristes pra
contar em relação às edições e captações de recursos para
publicar cada um deles. Todos têm uma história. Mas, como passei a
trabalhar em escolas e divulgar o gosto pela poesia, e percebia a
sede das crianças e mesmo até de professores pela poesia, isso me
renovou a cada tropeço, e hoje sinto muito orgulho quando reviro
páginas de meus livros e me releio. É algo fantástico ter orgulho
daquilo que se plantou. Por isso, e tão somente por isso,
continuarei a ser aquele que difunde outros olhares, e sempre com
poesia.
Qual sua motivação pra
escrever? E porque escrever?
Deixar plantada uma
sementinha de possibilidade diferente da habitual, pra que um outro
veja o mundo com outras alternativas. Acho mesmo que esse é o maior
motivo de escrever. Poder sentar e discutir essas alternativas,
trocar argumentos e até mesmo modificar os meus próprios, esse é o
maior porquê.
Depois de 20 livros de
poesia, surgiu o seu primeiro livro em prosa, “Os Pés da
Libertação”. O que significou pra você a publicação da nova
biografia de Lilli Steffens?
Pra mim foi um presente
recebido, e embora de forma simples, assim como a pessoa em questão,
o livro ficou muito charmoso e verdadeiro. Trouxe à tona toda
verdade possível, e sem floreios desnecessários fez entender uma
grande passagem. Essa é nossa função de retratadores de
existências. Acho mesmo que fui muito feliz nesse livro, bem porque
durante toda a minha vida trabalhei com deficientes, sei de suas
dificuldades. Fui um dos fundadores da ADEFI – Associação dos
Deficientes Físicos de Itajaí –, trabalhei em hospitais e asilos,
Fazia atendimentos domiciliares e acompanhava todo sofrimento deles.
Assim é que pude dar a veracidade maior ao livro da Lilli, uma
vencedora que pode e deve se sentir exemplo e motivação. Pra mim,
uma alegria muito grande que devo dividir com a Editora DOM e toda a
equipe, por ter a mim confiado essa grande obra.
Se fosse para começar
sua carreira de escritor hoje, o que você faria de modo diferente?
Eu acredito piamente em que
tudo tem determinado fim. O fato de eu hoje não ter enriquecido
financeiramente com meus livros, em nada significa que algo pudesse
ser mudado... Visto que foram as maiores dificuldades que me fizeram
escrever meus melhores livros. Fato é que todos nós erramos em algo
durante essa nossa breve passagem, e todos os dias peço perdão,
principalmente porque hoje a solidão é uma constante e ela me faz
dar voltas e voltas. Mas em nada mudaria essa trajetória que me fez
estar ao lado de pessoas imorredouras dentro de mim, e por tudo o que
semeei tempo afora.
OBRAS
DE LUIGI MAURIZI
POESIA
1981
– “Brotos de Amor”
1986
– “O Outro Lado” (2002, 2ª. edição)
2004
– “Feito (En)Canto – Volume I”
2005
– “Feito (En)Canto – Volume II”
2005
– “Cio da Estrada”
2006
– “Concórdias... Em Despeio”
2006
– “Poema Veríssimo”
2007
– “Verso de Querena: A Cidade de um Porto”
2007
– “Latência”
2007
– “Verso de Desdiga”
2008
– “Gorjeio Insonte”
2008
– “Amar é Quase Assim”
2009
– “Plenitude”
2011
– “Alforria: Floreios na Servidão”
2011
– “Sorversos”
2011
– “Brisa de Acasos”
2011
– “Retorno” (on-line: luigimaurizi.blogspot.com)
2012
– “Comod’Antes”
2013
– “Relicário”, com Saulo Adami
PROSA
2013
– “Os Pés da Libertação”, com Lilli Steffens
LEGENDAS
DAS FOTOGRAFIAS
Legenda
da fotografia 1:
O
brusquense Luigi Maurizi tem 20 livros publicados, sendo “Brotos de
Amor” (1981) sua obra de estreia em poesia e “Os Pés da
Libertação” (2013) o primeiro em prosa
Crédito
da fotografia:
SAULO
ADAMI
Legenda
da fotografia 2:
Luigi
Maurizi e Lilli Steffens são os autores de “Os Pés da Libertação”
Crédito
da fotografia:
SAULO
ADAMI
Matéria publicada no Jornal EM FOCO aos 13 de junho de 2014.
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