terça-feira, 22 de abril de 2014

Luigi Maurizi

A hora e a vez de Luigi Maurizi

Filho de Maria Steiner e Arthur Maurici, Luigi Maurizi nasceu com o nome de Edson Luiz Maurizi em Brusque, em 23 de fevereiro de 1957. Fundador da ABLA – Academia Brusquense de Letras e Artes –, frequenta escolas, varais literários e profere palestras. Tem sua poesia semeada em 20 livros, sendo o primeiro deles “Brotos de Amor” (1981) e o mais recente “Relicário” (2013). Ele também semeou e já colheu seu primeiro livro em prosa, a segunda biografia de Lilli Steffens, “Os Pés da Libertação” (DOM, 2013).
Luigi Maurizi é considerado “um artesão da palavra, um talento raro que foi revelado no meio literário de Santa Catarina na década de 1980, quando nos foi apresentado pelos versos impactantes de ‘Brotos de Amor’, em 1981”, escreveu o editor Saulo Adami na apresentação de “Brisa de Acasos” (DOM, 2011).
Para Rita de Cássia Oliani, da Academia de Letras de Balneário Camboriú: “Cada poesia de Luigi Maurizi é um inventário das experiências cotidianas com os outros, com o mundo e consigo mesmo. O momento que me toma é a descoberta de verdades que podem ser as suas próprias verdades, mas que me afetam e me comovem. Ele não finaliza suas inspirações, mas as deixa ali para que a toquemos e volta a qualquer momento, refazendo tudo, como um camaleão”.
Nesta entrevista, Luigi Maurizi fala sobre sua carreira e sua vida, e relembra os primeiros tempos de sua produção literária.
Exibindo Fotografia 1 - Luigi Maurizi.JPG
Quando surgiu seu interesse pela literatura, e principalmente sua vontade de se expressar através da poesia?
A partir do momento em que comecei a escrever pequenos fragmentos que se originavam de fatos vivenciados, e que de alguma forma me causavam uma reação diferenciada. Passei então a guardar essas pequenas relíquias que originaram, depois de algum tempo e relutância, no primeiro livro “Brotos de Amor” (1981).

Quais os autores que (eventualmente) o inspiraram ou de fato influenciaram a tua criação?
Minha preocupação desde a primeira obra foi a de não me deixar influenciar por outro estilo senão aquele ao que me havia proposto: um estilo próprio. E por isso não tenho nenhuma vergonha em dizer que poesia, naquele tempo, era pra mim uma proibição. Meu medo de seguir caminhos que não aqueles que eu mesmo tivesse construído era muito temeroso. Então criei meu próprio estilo, e sempre de forma “existencial” expus meus versos. Somente muito mais tarde, quando já na Academia, me forcei a vasculhar esse belo universo da poesia alheia.

Como era o cenário literário de Santa Catarina à sua volta, nos primeiros tempos como autor? Havia maior entrosamento entre os autores que hoje?
Em 1981, quando lancei meu primeiro livro, não tinha contato algum com outros autores. Quando procurei um dos maiores poetas de Santa Catarina para um parecer, simplesmente fui ignorado, e isso me causou um profundo desânimo. Mas resolvi que haveria de atingir minha meta, e então procurei pessoas que prontamente responderam ao meu pedido, mas não eram ligadas diretamente à literatura, e sim à educação. Depois disso, mudando para Itajaí, lancei o segundo livro, “O Outro Lado” (1986), mas também sem nenhum acompanhamento daqueles que se ocupavam com a literatura catarinense. Hoje, os tempos são bem diferentes, com o advento de leis de incentivo à cultura que permitem a viabilização de projetos. Se bem que eu não me ocupo dessas artimanhas, mas vejo que muitos autores estão se revelando por esses meios. E ainda que a classe não seja tão unida, vejo um futuro bem mais promissor pra todos, já que a Imprensa é nossa grande e maior aliada.
Exibindo Fotografia 2 - Luigi Maurizi e Lilli Steffens.JPG
Houve um período na sua carreira literária no qual você deixou de publicar. Estava nos seus planos deixar de publicar em definitivo ou deixar de produzir literatura?
Estranhamente nada aconteceu com o fato de ter lançado dois livros, e em nada fui incluído naquele tempo, e passei a me dedicar à profissão e à família que, na época, era tudo que me enchia de prazer e realização, ao contrário da literatura. Fiquei assim então envolvido com outros projetos que também rendem até hoje seus frutos, e somente após 18 anos resolvi, casualmente ou com saudades, reeditar o segundo livro, incentivado por pessoas ligadas à cultura e literatura. Tais pessoas trouxeram-me ao convívio real e benfazejo, ao ser realmente agraciado e passando a colher frutos plantados tanto tempo antes. Foi então que o retorno me fez ser um poeta assíduo e responsável com esse público que se revelava.

Qual sua motivação para publicar? E por que publicar?
A poesia, a partir de um tempo, assim como aquilo que me motivava a escrevê-la, passaram a ser a motivação dos meus dias. E a partir de então tudo é poesia, ainda que durante esse tempo todo tenha muitas histórias tristes pra contar em relação às edições e captações de recursos para publicar cada um deles. Todos têm uma história. Mas, como passei a trabalhar em escolas e divulgar o gosto pela poesia, e percebia a sede das crianças e mesmo até de professores pela poesia, isso me renovou a cada tropeço, e hoje sinto muito orgulho quando reviro páginas de meus livros e me releio. É algo fantástico ter orgulho daquilo que se plantou. Por isso, e tão somente por isso, continuarei a ser aquele que difunde outros olhares, e sempre com poesia.

Qual sua motivação pra escrever? E porque escrever?
Deixar plantada uma sementinha de possibilidade diferente da habitual, pra que um outro veja o mundo com outras alternativas. Acho mesmo que esse é o maior motivo de escrever. Poder sentar e discutir essas alternativas, trocar argumentos e até mesmo modificar os meus próprios, esse é o maior porquê.

Depois de 20 livros de poesia, surgiu o seu primeiro livro em prosa, “Os Pés da Libertação”. O que significou pra você a publicação da nova biografia de Lilli Steffens?
Pra mim foi um presente recebido, e embora de forma simples, assim como a pessoa em questão, o livro ficou muito charmoso e verdadeiro. Trouxe à tona toda verdade possível, e sem floreios desnecessários fez entender uma grande passagem. Essa é nossa função de retratadores de existências. Acho mesmo que fui muito feliz nesse livro, bem porque durante toda a minha vida trabalhei com deficientes, sei de suas dificuldades. Fui um dos fundadores da ADEFI – Associação dos Deficientes Físicos de Itajaí –, trabalhei em hospitais e asilos, Fazia atendimentos domiciliares e acompanhava todo sofrimento deles. Assim é que pude dar a veracidade maior ao livro da Lilli, uma vencedora que pode e deve se sentir exemplo e motivação. Pra mim, uma alegria muito grande que devo dividir com a Editora DOM e toda a equipe, por ter a mim confiado essa grande obra.

Se fosse para começar sua carreira de escritor hoje, o que você faria de modo diferente?
Eu acredito piamente em que tudo tem determinado fim. O fato de eu hoje não ter enriquecido financeiramente com meus livros, em nada significa que algo pudesse ser mudado... Visto que foram as maiores dificuldades que me fizeram escrever meus melhores livros. Fato é que todos nós erramos em algo durante essa nossa breve passagem, e todos os dias peço perdão, principalmente porque hoje a solidão é uma constante e ela me faz dar voltas e voltas. Mas em nada mudaria essa trajetória que me fez estar ao lado de pessoas imorredouras dentro de mim, e por tudo o que semeei tempo afora.

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 Exibindo Os pés da libertação.jpg Exibindo Brisa de acasos.jpeg

OBRAS DE LUIGI MAURIZI

POESIA
1981 – “Brotos de Amor”
1986 – “O Outro Lado” (2002, 2ª. edição)
2004 – “Feito (En)Canto – Volume I”
2005 – “Feito (En)Canto – Volume II”
2005 – “Cio da Estrada”
2006 – “Concórdias... Em Despeio”
2006 – “Poema Veríssimo”
2007 – “Verso de Querena: A Cidade de um Porto”
2007 – “Latência”
2007 – “Verso de Desdiga”
2008 – “Gorjeio Insonte”
2008 – “Amar é Quase Assim”
2009 – “Plenitude”
2011 – “Alforria: Floreios na Servidão”
2011 – “Sorversos”
2011 – “Brisa de Acasos”
2011 – “Retorno” (on-line: luigimaurizi.blogspot.com)
2012 – “Comod’Antes”
2013 – “Relicário”, com Saulo Adami

PROSA
2013 – “Os Pés da Libertação”, com Lilli Steffens











LEGENDAS DAS FOTOGRAFIAS


Legenda da fotografia 1:
O brusquense Luigi Maurizi tem 20 livros publicados, sendo “Brotos de Amor” (1981) sua obra de estreia em poesia e “Os Pés da Libertação” (2013) o primeiro em prosa

Crédito da fotografia:
SAULO ADAMI


Legenda da fotografia 2:
Luigi Maurizi e Lilli Steffens são os autores de “Os Pés da Libertação”

Crédito da fotografia:
SAULO ADAMI

Matéria publicada no Jornal EM FOCO aos 13 de junho de 2014.


FALECIMENTO:

Edson Luis Maurici - 57 anos - Data: 13/08/2014 Velório: Capela Mortuária Parque da Saudade Sepultamento: Cemitério Municipal Parque da Saudade - 14/08/2014 - 14:00h

 

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