segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Padre José Jacob Archer


O entrevistado desta semana é o Padre José Jacob Archer (63 anos) nascido em 03 de julho de 1951, no Brilhante primeiro, Município de Itajaí; filho dos saudosos Lino Batistti Archer (este ano completa 100 anos de seu nascimento), e de Albertina Kruscinski Archer; seu avô paterno nasceu na Itália, Caliano, província de Trento, e o materno veio da Polônia (Este ano deseja conhecer  este país, na jornada Mundial da Juventude).






Como surgiu Brusque em sua trajetória?
Fomos de mudança pra Brusque em Dezembro de 1962, morávamos na esquina Lauro Muller /Pedro Werner, e mais tarde o Pai comprou uma casa logo ao lado,já na Rua Pedro Werner, onde tínhamos o Bar e Restaurante Start, também com fábrica de gelo, hoje onde está localiza o Hotel Veneza. O sorvete preparado pelo meu Pai, minha irmã e também por mim, claro, era uma delicia, e no verão, principalmente aos sábados e domingos não dávamos conta, pois ficava em um lugar privilegiado, entre os campos do Paysandú e Carlos Renaux (este era o meu time de Coração rsrsrs), e também caminho para Igreja São Luiz,que na época a maioria iam a pé pra Igreja. Eram também famosos os pastéis preparado por minha mãe Albertina, pois a massa era feito por ela e fritos na hora, que de vez em quando eu ajudava a fritar, e também a famosa almôndega (bolinho de carne).

E os estudos?
Comecei meus estudos na escola do Brilhante, com minha primeira Professora que foi a Dona Hilda. Depois estudei em 1961 e 62 na Escola de Santa Terezinha, (íamos de ônibus Expresso Brusquense, muitas vezes o motorista era o saudoso e amigo motorista Sr.João Cavaco). Lembro-me da Professora Giovanne Morrelli (esposa do excelente jogador Pereirinha,a quem vi jogar muitas vezes). Em 1963, já residindo em Brusque, fiz a quarta série do Primário no Colegio Santo Antônio (lembro-me da Professora Irmã Eneida, muito bacana,todos gostávamos dela ).  Em 1964 ingressei no Seminário de Antônio Carlos, onde o Reitor era Pe.Vitor Schillikmann, (hoje Bispo Emérito de Fpolis). Continuei meus estudos a partir do ano seguinte em Azambuja, primeiro e segundo grau (em 1970 junto com atual Pe. Lucio, atualmente em Missão na África,e outros seminaristas, servimos o Exército,em Brusque no Tiro de Guerra 170.,mas continuando os estudos no Seminário. Em 1973 cursamos a filosofia,(Estudos Sociais) na FEB,em Brusque (Pe.Orlando era o Diretor fundador), fomos da primeira turma desta Faculdade, hoje UNIFEBE. Em 1976 fui para Florianópolis cursar a Teologia no ITESC, onde a maioria dos Seminaristas de Santa Catarina também cursavam, o Reitor era o saudoso Pe. Paulo Bratti.

Como surgiu o chamamento espiritual – a vocação sacerdotal ?
Eu fui para o Seminário em Antonio Carlos,com 12 anos de idade.Quando morava no Brilhante, meus pais, juntamente com outros casais, construiram a Igreja Sagrado Coração de Jesus, em 1958. Tínhamos muito contato com os Padres que vinham de Itajaí, e também com Missionários que lá iam. Certamente foi por isso que despertou em mim a Vocação Sacerdotal. Lembro-me quando Dom Joaquim de Oliveira esteve visitando nossa Comunidade do Brilhante, em 1961.Lembro-me do convite que ele me fez: “Menino,não queres ir para o Seminário?”. Não me recordo a resposta, mas o certo que essa rápida conversa me despertou a vontade de seguir este Caminho.

Tem a ver com chamamento de Jesus?
Claro que o Convite foi de Jesus:"Vem e Segue-me".Sem dúvidas alguma, a prática Religiosa de meus pais Lino e Albertina, muitos fervorosos,muito me influenciou no seguimento a Jesus, ingressando no Seminário. Nunca me forçaram, sempre me deixaram livres. Recordo-me quando minha mãe faleceu em Novembro de 1973, estava na filosofia, meu pai me disse."Olha,se queres seguir no Seminário, podes seguir, mas se não queres, pode sair também". Eu respondi. Pai, vou continuar, quero ser Padre.

Pessoas que influenciaram?
Foram muitos que me influenciaram nesta Vocação.Cito alguns: Dom Afonso Niehues, Monsenhor Valentim Loch, Pe.Bertolino, Monsenhor Wendelino Hoobold (era Pároco em Itajai), todos por seus exemplos de vida e dedicação à Evangelização.Tem muitos outros. Lembro da Vida e suas mensagens, de Dom Helder Câmara e Pe. José Conblin, da Teologia da Libertação. Decidi atender ao chamado de Cristo, para Evangelizar, e Ele Diz, "Ide por todo o Mundo, e pregai o Evangelho"(Mt.28,18). Sabendo da situação de muitas Regiões do Brasil e do mundo, onde tem poucos evangelizadores, principalmente Padres, nasceu em mim o desejo de ser Missionário em terras distantes. Trabalhei na Bahia durante 14 anos,e agora começo nessa Missão aqui na Diocese de Macapá, com uma área de 121 mil km quadrados, e com pouquíssimos Padres pra uma Diocese tão extensa e com grandes desafios,tanto Religioso como Social, que devem caminhar juntos. Fé e Vida. Meu lema sacerdotal, tirei do Salmo 118 "Comigo está o Senhor, nada temo". Deve ser por isso que não tenho medo de enfrentar esta nova Missão,tão diferente do Sul, mas já sinto tanta bondade e Fé do povo.Jesus disse , "Vamos pras Aldeias e periferias da Cidade,pois aí também devo pregar o Evangelho".(Mc.1,38).

Por onde caminhou?
Em 30 de junho de 1979,juntamente com os atuais Bispos Dom Luiz Carlos Eccel(BispoEmérito de Caçador) e Dom João Francisco Salm,(Bispo de Turabarão), fomos Ordenados Presbíteros pela imposição das mãos de Dom Afonso Niehues (que foi também quem me Batizou). Ainda como Seminarista e também Padre, ajudei na Paróquia de Biguaçú,depois em 1983 fui o primeiro Pároco de Governador Celso Ramos, em 1990 fui pra Leoberto Leal, onde trabalhei durante 6 anos, e em 1996 me coloquei a disposição para ir as Missões na Bahia, no projeto Igrejas Irmãs,na Diocese de Barra, Bahia, às margens do Rio São Francisco. Trabalhei em Oliveira dos Brejinhos 2 anos, fui chamado em seguida pra assumir a Catedral de Barra,por Dom Luiz Cappio, grande defensor do Rio São Francisco. Em 2002 fui pra Diocese de Ruy Barbosa ainda na Bahia, para Paróquia de Pintadas onde tinha duas Missionarias Catarinenses: Irmã Velzi e a missionaria leiga Neusa Cadore (minha prima). Em 2010 voltei para Florianópolis, onde assumi como primeiro Pároco a  Paróquia de Bombinhas, fiquei até inicio de fevereiro deste ano. Senti novamente muito forte o chamado para as Missões, sendo convidado pelo Bispo de Macapá, Dom Pedro Conti, Italiano, em janeiro do ano passado num encontro Intereclesial de CEBs, em Juazeiro do Norte, Ceará. Vim para o Amapá no dia 10 de fevereiro deste ano (2015). Nesses  primeiros dias fiquei em Macapá, na casa do Bispo, para conhecer um pouco a história da Diocese de Macapá, uma ilha, às margens principalmente do Rio Amazonas. Na próxima semana irei para Paróquia Divino Espírito Santo, municipios de Amapá e Calçoene,distante a 300km e 370 km respectivamente da Capital Macapá, e divisa com a Guiana Francesa e Oiapoque. Já estive nesses municípios semana passada conhecendo  um pouco a Paróquia, e conhecendo o Pároco que lá está e vai ficar até depois da Páscoa, depois provavelmente vou ficar sozinho como Pároco. Aqui estamos no Hemisfério Norte, nesta época estamos na estação do inverno, embora não faça tão frio. A temperatura varia entre 18 e 34 graus. Nesta época de inverno, aqui chove bastante. O Rio Amazonas é maravilhoso, uma Graça do Senhor da Vida. Muitas famílias moram as margens deste rio em casas palafitas, principalmente para se proteger das marés alta,pois o Rio Amazonas desagua no Atlantico aqui em Macapá.


Quais as Parábolas que mais aprecia?
Gosto muito do Sermão da Montanha,(Mt.5,1-12), as Bem Aventuranças. Me faz refletir também, duas Parábolas de Jesus: A do Filho Pródigo,Lc.15,1-10), que mostra a Misericórdia do Pai, e a do Bom Samaritano,Lc.1,25-37), que mostra o nosso compromisso social para com os mais necessitados,o nosso próximo. Não basta ir à Igreja,é necessário ser Igreja no meio do povo. Como diz São Paulo, “Fé sem obras é morta”.

Uma homilia  bem preparada cativa os fiéis?
Sobre a preparação das  homilias, claro que é muito importante, para que se possa transmitir uma boa mensagem, sempre de acordo com a realidade de onde estamos. Baseado nas leituras do dia, mas passando pra realidade atual.As leituras são a base. Não são as mensagens difíceis que o povo consegue captar,mas muitas vezes uma mensagem que o Padre acha simples, essa pode ser muito importante para o fiel, pois tocou seu coração.
Quais os desafios que enfrentou?
Os desafios são muitos no dia a dia. Não saberia citar um em particular,mas diria que o desafio é sempre ajudar as pessoas a serem felizes, tanto espiritualmente como socialmente. O desafio sempre é estar no meio do povo,"sentir o cheiro das Ovelhas" como diz o Papa Francisco. As pessoas querem sempre ser bem atendida pelo Padre, e ser ajudada a resolver seus problemas. Principalmente em terras de Missões além fronteiras, como nas Missões na Bahia, onde estive durante 14 anos, e principalmente aqui no Amapá, na Diocese de Macapá, o grande desafio será atender bem o povo, sabendo que a área de extensão da Paróquia é muito grande (Paróquia com os Municípios de Amapá e Calçoene,tem 21 mil km quadrados), e muitas Comunidades o Padre vai somente uma vez ao ano, mesmo que a Comunidade tenha poucas famílias, o Padre se faz presente, e também a dificuldade de visitar pessoalmente cada família. A gente se sente impotente.

Quais são suas aspirações?
As minhas aspirações, são que aumentem as Vocações Sacerdotais e Religiosas, e que na Arquidiocese de Fpolis tenham mais Padres que tenham essa Vocação Missionária.A minha aspiração é que as pessoas possam Conhecer mais Jesus Cristo, ter mais Fé,e assim sejam mais felizes,tanto espiritualmente como na Vida Social a cada dia. Cada um de nós possa ser mais um Bom Samaritano. As aspirações são que um dia todos possam ter o necessário para ter uma vida digna,pra isso precisamos partilhar mais. O meu desejo é que acabe toda essa corrupção e ladroagem que estamos nos acostumando a escutar, e que o dinheiro público possa ser inteiramente para o bem dos mais necessitados e de todo o cidadão. Que possamos ser verdadeiros seguidores de Cristo. As alegrias na vida de um Padre é muito grande. A maior é poder seguir Jesus Cristo, e ser instrumento na transmissão da sua mensagem, pela Palavra e pelo exemplo de Vida. Como dizia Mahatman Gandhi,"O mundo depois de mim deve ser melhor,pois eu vivi nele". A Alegria maior é poder Celebrar a Eucaristia,fazendo "a memória de Cristo"., é poder ajudar o outro a crescer. Me lembro de quando estava na Bahia, e poder ajudar a construir mais de 300 Cisternas para colher água da chuva, e assim dar água para o povo do sertão Baiano. (Eu não era o pedreiro,mas ajudava a captar recursos, e coordenar a construção pela Igreja). Não tive também uma decepção em especial,mas fico triste quando não consigo ajudar as pessoas a resolver seus problemas. Decepção tenho com tanta corrupção, Violência,drogas (principalmente no meio de crianças, adolescente e jovens estragando a sua própria vida), prostuição, tráfico de pessoas,que é muito mais do que imaginamos.Também fico decepcionado quando vejo divisão e competição na Igreja, tanto padres como lideranças leigas.

Se fosse recomeçar?
Se fosse para começar novamente, seria novamente Padre, principalmente para trabalhar em terras de Missões. Gosto de ser Missionário onde há poucos evangelizadores. Vim para Diocese de Macapá, porque é o apelo de Jesus Cristo, do papa Francisco (ajudem a Igreja da Amazônia),da Igreja no Brasil, CNBB, da Igreja de Fpolis que aprovou essa nova frente missionária na Amazônia na ultima Assembleia em julho do ano passado, e é o apelo do Bispo de Macapá, Dom Pedro Conti e de toda a Diocese. Que cada um que esteje lendo essa matéria,possa nos ajudar,principalmente com suas Orações, e também sendo um Missionário onde você está morando,ajudando na Evangelização.

Finalizando, alguma colocação derradeira?
Obrigado Luiz por esta oportunidade, e agradeço ao meu amigo e colega de Seminário Aluisius Lauth, que intermediou para que esta entrevista se concretizasse. Que Deus, pela intercessão de São José, Padroeiro da Diocese de Macapá, e N.Sra.de Nazaré, abençoe a todos. Meu facebook Jacob Archer, lá encontrará varias fotos.

 



Publicado no Jornal Em Foco aos 07 de março de 2015
Exibindo Amapá e Macapá 196.JPG

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