O
entrevistado desta semana é o Padre José Jacob Archer (63
anos) nascido em 03 de julho de 1951, no Brilhante primeiro,
Município de Itajaí; filho dos saudosos Lino Batistti Archer (este
ano completa 100 anos de seu nascimento), e de Albertina Kruscinski
Archer; seu avô paterno nasceu na Itália, Caliano, província de
Trento, e o materno veio da Polônia (Este ano deseja conhecer
este país, na jornada Mundial da Juventude).
Como
surgiu Brusque em sua trajetória?
Fomos
de mudança pra Brusque em Dezembro de 1962, morávamos na esquina
Lauro Muller /Pedro Werner, e mais tarde o Pai comprou uma casa logo
ao lado,já na Rua Pedro Werner, onde tínhamos o Bar e Restaurante
Start, também com fábrica de gelo, hoje onde está localiza o
Hotel Veneza. O sorvete preparado pelo meu Pai, minha irmã e também
por mim, claro, era uma delicia, e no verão, principalmente aos
sábados e domingos não dávamos conta, pois ficava em um lugar
privilegiado, entre os campos do Paysandú e Carlos Renaux (este era
o meu time de Coração rsrsrs), e também caminho para Igreja São
Luiz,que na época a maioria iam a pé pra Igreja. Eram também
famosos os pastéis preparado por minha mãe Albertina, pois a massa
era feito por ela e fritos na hora, que de vez em quando eu ajudava
a fritar, e também a famosa almôndega (bolinho de carne).
E
os estudos?
Comecei
meus estudos na escola do Brilhante, com minha primeira Professora
que foi a Dona Hilda. Depois estudei em 1961 e 62 na Escola de Santa
Terezinha, (íamos de ônibus Expresso Brusquense, muitas vezes o
motorista era o saudoso e amigo motorista Sr.João Cavaco). Lembro-me
da Professora Giovanne Morrelli (esposa do excelente jogador
Pereirinha,a quem vi jogar muitas vezes). Em 1963, já residindo em
Brusque, fiz a quarta série do Primário no Colegio Santo Antônio
(lembro-me da Professora Irmã Eneida, muito bacana,todos gostávamos
dela ). Em 1964 ingressei no Seminário de Antônio Carlos,
onde o Reitor era Pe.Vitor Schillikmann, (hoje Bispo Emérito de
Fpolis). Continuei meus estudos a partir do ano seguinte em Azambuja,
primeiro e segundo grau (em 1970 junto com atual Pe. Lucio,
atualmente em Missão na África,e outros seminaristas, servimos o
Exército,em Brusque no Tiro de Guerra 170.,mas continuando os
estudos no Seminário. Em 1973 cursamos a filosofia,(Estudos Sociais)
na FEB,em Brusque (Pe.Orlando era o Diretor fundador), fomos da
primeira turma desta Faculdade, hoje UNIFEBE. Em 1976 fui para
Florianópolis cursar a Teologia no ITESC, onde a maioria dos
Seminaristas de Santa Catarina também cursavam, o Reitor era o
saudoso Pe. Paulo Bratti.
Como
surgiu o chamamento espiritual – a vocação sacerdotal ?
Eu
fui para o Seminário em Antonio Carlos,com 12 anos de idade.Quando
morava no Brilhante, meus pais, juntamente com outros casais,
construiram a Igreja Sagrado Coração de Jesus, em 1958. Tínhamos
muito contato com os Padres que vinham de Itajaí, e também com
Missionários que lá iam. Certamente foi por isso que despertou em
mim a Vocação Sacerdotal. Lembro-me quando Dom Joaquim de Oliveira
esteve visitando nossa Comunidade do Brilhante, em 1961.Lembro-me do
convite que ele me fez: “Menino,não queres ir para o
Seminário?”. Não me recordo a resposta, mas o certo que essa
rápida conversa me despertou a vontade de seguir este Caminho.
Tem
a ver com chamamento de Jesus?
Claro
que o Convite foi de Jesus:"Vem e Segue-me".Sem
dúvidas alguma, a prática Religiosa de meus pais Lino e Albertina,
muitos fervorosos,muito me influenciou no seguimento a Jesus,
ingressando no Seminário. Nunca me forçaram, sempre me deixaram
livres. Recordo-me quando minha mãe faleceu em Novembro de 1973,
estava na filosofia, meu pai me disse."Olha,se queres seguir
no Seminário, podes seguir, mas se não queres, pode sair também".
Eu respondi. Pai, vou continuar, quero ser Padre.
Pessoas
que influenciaram?
Foram
muitos que me influenciaram nesta Vocação.Cito alguns: Dom Afonso
Niehues, Monsenhor Valentim Loch, Pe.Bertolino, Monsenhor Wendelino
Hoobold (era Pároco em Itajai), todos por seus exemplos de vida e
dedicação à Evangelização.Tem muitos outros. Lembro da Vida e
suas mensagens, de Dom Helder Câmara e Pe. José Conblin, da
Teologia da Libertação. Decidi atender ao chamado de Cristo, para
Evangelizar, e Ele Diz, "Ide por todo o Mundo, e pregai o
Evangelho"(Mt.28,18). Sabendo da situação de muitas Regiões
do Brasil e do mundo, onde tem poucos evangelizadores, principalmente
Padres, nasceu em mim o desejo de ser Missionário em terras
distantes. Trabalhei na Bahia durante 14 anos,e agora começo nessa
Missão aqui na Diocese de Macapá, com uma área de 121 mil km
quadrados, e com pouquíssimos Padres pra uma Diocese tão
extensa e com grandes desafios,tanto Religioso como Social, que devem
caminhar juntos. Fé e Vida. Meu lema sacerdotal, tirei do Salmo 118
"Comigo está o Senhor, nada temo". Deve ser por isso que
não tenho medo de enfrentar esta nova Missão,tão diferente do Sul,
mas já sinto tanta bondade e Fé do povo.Jesus disse , "Vamos
pras Aldeias e periferias da Cidade,pois aí também devo pregar o
Evangelho".(Mc.1,38).
Por
onde caminhou?
Em
30 de junho de 1979,juntamente com os atuais Bispos Dom Luiz Carlos
Eccel(BispoEmérito de Caçador) e Dom João Francisco Salm,(Bispo de
Turabarão), fomos Ordenados Presbíteros pela imposição das mãos
de Dom Afonso Niehues (que foi também quem me Batizou). Ainda como
Seminarista e também Padre, ajudei na Paróquia de Biguaçú,depois
em 1983 fui o primeiro Pároco de Governador Celso Ramos, em 1990 fui
pra Leoberto Leal, onde trabalhei durante 6 anos, e em 1996 me
coloquei a disposição para ir as Missões na Bahia, no projeto
Igrejas Irmãs,na Diocese de Barra, Bahia, às margens do Rio São
Francisco. Trabalhei em Oliveira dos Brejinhos 2 anos, fui chamado em
seguida pra assumir a Catedral de Barra,por Dom Luiz Cappio, grande
defensor do Rio São Francisco. Em 2002 fui pra Diocese de Ruy
Barbosa ainda na Bahia, para Paróquia de Pintadas onde tinha duas
Missionarias Catarinenses: Irmã Velzi e a missionaria leiga Neusa
Cadore (minha prima). Em 2010 voltei para Florianópolis, onde assumi
como primeiro Pároco a Paróquia de Bombinhas, fiquei até
inicio de fevereiro deste ano. Senti novamente muito forte o chamado
para as Missões, sendo convidado pelo Bispo de Macapá, Dom Pedro
Conti, Italiano, em janeiro do ano passado num encontro Intereclesial
de CEBs, em Juazeiro do Norte, Ceará. Vim para o Amapá no dia 10 de
fevereiro deste ano (2015). Nesses primeiros dias fiquei em
Macapá, na casa do Bispo, para conhecer um pouco a história da
Diocese de Macapá, uma ilha, às margens principalmente do Rio
Amazonas. Na próxima semana irei para Paróquia Divino Espírito
Santo, municipios de Amapá e Calçoene,distante a 300km e 370 km
respectivamente da Capital Macapá, e divisa com a Guiana Francesa e
Oiapoque. Já estive nesses municípios semana passada conhecendo
um pouco a Paróquia, e conhecendo o Pároco que lá está e vai
ficar até depois da Páscoa, depois provavelmente vou ficar sozinho
como Pároco. Aqui estamos no Hemisfério Norte, nesta época estamos
na estação do inverno, embora não faça tão frio. A temperatura
varia entre 18 e 34 graus. Nesta época de inverno, aqui chove
bastante. O Rio Amazonas é maravilhoso, uma Graça do Senhor da
Vida. Muitas famílias moram as margens deste rio em casas palafitas,
principalmente para se proteger das marés alta,pois o Rio Amazonas
desagua no Atlantico aqui em Macapá.
Quais
as Parábolas que mais aprecia?
Gosto
muito do Sermão da Montanha,(Mt.5,1-12), as Bem Aventuranças. Me
faz refletir também, duas Parábolas de Jesus: A do Filho
Pródigo,Lc.15,1-10), que mostra a Misericórdia do Pai, e a do Bom
Samaritano,Lc.1,25-37), que mostra o nosso compromisso social para
com os mais necessitados,o nosso próximo. Não basta ir à Igreja,é
necessário ser Igreja no meio do povo. Como diz São Paulo, “Fé
sem obras é morta”.
Uma
homilia bem preparada cativa os fiéis?
Sobre
a preparação das homilias, claro que é muito importante,
para que se possa transmitir uma boa mensagem, sempre de acordo com a
realidade de onde estamos. Baseado nas leituras do dia, mas passando
pra realidade atual.As leituras são a base. Não são as mensagens
difíceis que o povo consegue captar,mas muitas vezes uma mensagem
que o Padre acha simples, essa pode ser muito importante para o fiel,
pois tocou seu coração.
Quais
os desafios que enfrentou?
Os
desafios são muitos no dia a dia. Não saberia citar um em
particular,mas diria que o desafio é sempre ajudar as pessoas a
serem felizes, tanto espiritualmente como socialmente. O desafio
sempre é estar no meio do povo,"sentir o cheiro das Ovelhas"
como diz o Papa Francisco. As pessoas querem sempre ser bem atendida
pelo Padre, e ser ajudada a resolver seus problemas. Principalmente
em terras de Missões além fronteiras, como nas Missões na Bahia,
onde estive durante 14 anos, e principalmente aqui no Amapá, na
Diocese de Macapá, o grande desafio será atender bem o povo,
sabendo que a área de extensão da Paróquia é muito grande
(Paróquia com os Municípios de Amapá e Calçoene,tem 21 mil km
quadrados), e muitas Comunidades o Padre vai somente uma vez ao ano,
mesmo que a Comunidade tenha poucas famílias, o Padre se faz
presente, e também a dificuldade de visitar pessoalmente cada
família. A gente se sente impotente.
Quais
são suas aspirações?
As
minhas aspirações, são que aumentem as Vocações Sacerdotais e
Religiosas, e que na Arquidiocese de Fpolis tenham mais Padres que
tenham essa Vocação Missionária.A minha aspiração é que as
pessoas possam Conhecer mais Jesus Cristo, ter mais Fé,e assim sejam
mais felizes,tanto espiritualmente como na Vida Social a cada dia.
Cada um de nós possa ser mais um Bom Samaritano. As
aspirações são que um dia todos possam ter o necessário para ter
uma vida digna,pra isso precisamos partilhar mais. O meu desejo é
que acabe toda essa corrupção e ladroagem que estamos nos
acostumando a escutar, e que o dinheiro público possa ser
inteiramente para o bem dos mais necessitados e de todo o cidadão.
Que possamos ser verdadeiros seguidores de Cristo. As alegrias na
vida de um Padre é muito grande. A maior é poder seguir Jesus
Cristo, e ser instrumento na transmissão da sua mensagem, pela
Palavra e pelo exemplo de Vida. Como dizia Mahatman Gandhi,"O
mundo depois de mim deve ser melhor,pois eu vivi nele". A
Alegria maior é poder Celebrar a Eucaristia,fazendo "a
memória de Cristo"., é poder ajudar o outro a crescer. Me
lembro de quando estava na Bahia, e poder ajudar a construir mais de
300 Cisternas para colher água da chuva, e assim dar água para o
povo do sertão Baiano. (Eu não era o pedreiro,mas ajudava a captar
recursos, e coordenar a construção pela Igreja). Não tive também
uma decepção em especial,mas fico triste quando não consigo ajudar
as pessoas a resolver seus problemas. Decepção tenho com tanta
corrupção, Violência,drogas (principalmente no meio de crianças,
adolescente e jovens estragando a sua própria vida), prostuição,
tráfico de pessoas,que é muito mais do que imaginamos.Também fico
decepcionado quando vejo divisão e competição na Igreja, tanto
padres como lideranças leigas.
Se
fosse recomeçar?
Se
fosse para começar novamente, seria novamente Padre, principalmente
para trabalhar em terras de Missões. Gosto de ser Missionário onde
há poucos evangelizadores. Vim para Diocese de Macapá, porque é o
apelo de Jesus Cristo, do papa Francisco (ajudem a Igreja da
Amazônia),da Igreja no Brasil, CNBB, da Igreja de Fpolis que aprovou
essa nova frente missionária na Amazônia na ultima Assembleia em
julho do ano passado, e é o apelo do Bispo de Macapá, Dom Pedro
Conti e de toda a Diocese. Que cada um que esteje lendo essa
matéria,possa nos ajudar,principalmente com suas Orações, e também
sendo um Missionário onde você está morando,ajudando na
Evangelização.
Finalizando,
alguma colocação derradeira?
Obrigado
Luiz por esta oportunidade, e agradeço ao meu amigo e colega de
Seminário Aluisius
Lauth, que
intermediou para que esta entrevista se concretizasse. Que Deus, pela
intercessão de São José, Padroeiro da Diocese de Macapá, e
N.Sra.de Nazaré,
abençoe a todos. Meu facebook
Jacob Archer, lá
encontrará varias fotos.
Publicado no Jornal Em Foco aos 07 de março de 2015
Publicado no Jornal Em Foco aos 07 de março de 2015
Nenhum comentário:
Postar um comentário