Bernadete
de Oliveira Fischer
Mestre
em Educação
A
entrevistada desta semana é a Mestre em Educação, Bernadete
de Oliveira Fischer,
nascida em Brusque aos 11 de junho de
1953; filha do saudoso Estevam Augustinho de Oliveira (falecido em 2006, tendo sido vereador durante três legislaturas) e de Emília Floriani de
Oliveira (está com 78 anos); cônjuge: Edemar Fischer; filhos: Francine de Oliveira
Fischer Sgrott, Caroline de Oliveira Fischer Bacca e Luiz Gustavo de
Oliveira Fischer
Nossa
entrevistada a Mestre Bernadete
de Oliveira Fischer
Sonho
de criança?
Meu
sonho profissional sempre foi o de ser professora.
O
que sente falta de sua infância?
Minha
infância foi muito boa. Vivi no bairro de Santa Terezinha e não
sentíamos falta de nada.
Quais
as lembranças que têm de sua infância?
Lembro-me
das brincadeiras com minhas duas irmãs, primas e amiguinhas no
bairro Santa Terezinha. Em cada idade uma brincadeira: bonecas,
tic-tac de panos recheados de areia feitos por nossas mães,
brincadeira de rodas com cantos, voleibol em um campinho próximo à
nossa casa, batida (jogo com bola entre duas equipes), brincadeira de
esconder, amarelinha e tantas outras que as crianças de hoje nem
imaginam que existiram.
Pessoas
que influenciaram?Como escolheu a sua profissão?
Meus
pais sempre priorizaram os nossos estudos. Minha mãe gostaria de ter
sido professora, porém, na sua infância e juventude estudar era um
sonho para poucos realizarem.
Assim, estudar sempre foi um prazer para mim. As professoras que
tivemos nos anos iniciais, na então Escola Municipal Santa
Terezinha, hoje Escola de Educação Básica Santa Terezinha, também
muito me influenciaram na escolha profissional. No primeiro e segundo
ano tivemos como alfabetizadora a carinhosa e competente Dona Matilde
Orlanda Teixeira Pozzi com a qual tive e tenho muita empatia e
admiração. A ela devo meu gosto pela leitura e estudo. No terceiro
ano tivemos como professora uma também brilhante educadora, a Dona
Nadir Schlindwein Morelli, que já se encontra na Casa do Criador e
foi ela quem nos mostrou pela primeira vez uma máquina de escrever.
No quarto ano tivemos o prazer de ter como professora a Dona Rute de
Oliveira Medeiros, paciente, brincalhona, que descortinou para nós
as belezas do Rio de Janeiro, como o Pão de Açúcar. Hoje, com a
globalização e os meios de comunicação, intensamente usados estas
descobertas não fazem sentido a uma criança de sete, oito ou nove
anos. A partir do quinto ano e o ensino médio fiz no Colégio São
Luiz, cujo diretor era o Padre Orlando Maria Murphy, educador à
frente do seu tempo e que orientou minha formação profissional.
Destaco como influência na minha escolha duas professoras da área
de Ciências: Regina Moritz e Maria Celina Coelho Gonçalvez, esta
também está do outro lado. No curso superior de Ciências
Biológicas tive vários e bons professores que me fizeram ter
certeza da escolha que fiz. Na genética a professora Norma
Odebrecht, na zoologia o professor Leandro Longo, na botânica o
professor doutor Roberto Klein, cujos fascículos de sua tese de
doutorado guardo comigo como presente deste grande botânico, na
ecologia o professor Alceu Longo. Tantos outros mestres tive em
minha trajetória, todos fazem parte da história de formação desta
professora apaixonada pelo ato de educar.
Histórico
escolar ?
1960
– 1963 Anos Iniciais na escola Municipal Santa Terezinha; 1964 –
1971 Anos finais e ensino médio Curso Normal (matutino) e Curso de
Técnico em Contabilidade (noturno), no Colégio São Luiz; 1972 –
1975 Curso de Ciências Biológicas, na FURB, em Blumenau; 1976 –
1977 Curso de Pós-Graduação em Genética Humana, FURB/UFRGS e 1987
– 1990 Mestrado em Educação, UFSC, em Florianópolis.
Há
quanto tempo está formada?
Ciências
Biológicas em 1975, Pós-Graduação em 1977 e Mestrado em 1990.
Como
conheceu o Edemar?
Conheci
o Edemar Fischer nos primeiros dias de aula do curso Técnico em
Contabilidade, no Colégio São Luiz, em 1969. Namoramos 5 anos e nos
casamos em 19 de janeiro de 1974, portanto, há 40 anos.
Como
surgiu Ciências Biológicas em sua trajetória?
A
escolha por Biologia deveu-se à minha curiosidade em estudar: a
origem dos seres vivos, a influência da genética, os cuidados com o
ambiente, os animais, as plantas, ... Defendi em minha Dissertação
de Mestrado que as crianças nascem curiosas e investigativas. É
preciso que os pais e professores cultivem estas características que
irão contribuir para que as crianças gostem da escola e amem
estudar.
Fale
sobre seu tempo de professora na EEB Dom João Becker
A
Escola de Educação Básica Dom João Becker foi a minha segunda
casa. Como já disse, iniciei meus trabalhos lá em 1978 e de lá só
saí aposentada, em 1997. Foram dezenove anos de muito trabalho e
dedicação aos tantos alunos que por lá passaram. Sempre digo que
se me fosse dado voltar aos 18 anos, certamente eu escolheria ser
professora. Sei que a realização em minha carreira profissional
deve-se ao fato de eu sempre ter sido tratada com respeito pelos meus
alunos, seus pais e pelos amigos professores com os quais até hoje
convivo. No percurso do Dom João Becker atuei como professora de
Ciências e Biologia e durante 4 anos fui diretora da escola.
E
seu trabalho na Unifebe?
Trabalhei
na Unifebe durante 31 anos. Como citei anteriormente, atuei como
professora de biologia no Curso de Ciências, licenciatura de 1º.
Grau, bem como fui coordenadora deste curso (1976 – 2000). A partir
de 1987 atuei como professora de Biologia Humana, Higiene e
Puericultura e Metodologia do Ensino de Ciências no Curso de
Pedagogia. A partir de 1998 até aumentei minha carga horária na
função administrativa na FEBE, sendo responsável pelos projetos de
cursos novos, de reconhecimento dos cursos existentes e projeto de
transformação da instituição em Centro Universitário de Brusque,
Unifebe.
A
educação ontem e hoje?
Estudando
a História da Educação Brasileira vemos que cada época ou período
de nossa história foi e é caracterizada por diferentes modelos -
político, econômico, social – e que em cada período, dá-se uma
efervescência de ideias que exigem nova metodologia e organização
escolar. O surgimento de novas metodologias na educação explica
porque alguns pais reclamam que os filhos aprendem menos conteúdos
que eles. Nas últimas décadas a organização escolar e a
metodologia do ensino tiveram várias mudanças para atender as
exigências dos modelos social, econômico e político pelos quais o
país passou. Antes os alunos decoravam para serem arguidos e,
passavam de ano mediante a reprodução dos conteúdos assimilados.
Hoje o ensino contempla a construção do conhecimento. O aluno
aprende pensando e elaborando seu próprio conhecimento a respeito
dos conteúdos apresentados pelos professores. Hoje todas as
disciplinas devem ter ligação entre si. Eu, particularmente, fui
alfabetizada pela metodologia da escola tradicional e tive o
privilégio trabalhar no ensino fundamental, médio e universitário
com uma metodologia construtivista. Hoje e ontem educar é uma arte e
como tal deve ser feita por profissionais que amam o que fazem e que
usam o diálogo como ponto de partida. O educador dever ter
competência técnica e política para poder fazer da escola um lugar
aprazível e feliz para ele e para os alunos. Mas acho que ainda não
respondi seu questionamento sobre a educação ontem e hoje. Vejo
hoje um dos grandes problemas que interferem nas escolas: falta de
políticas públicas para a educação que incentivem jovens
escolherem a profissão de educador. Quando os adolescentes concluem
o ensino médio muitos não sabem qual a profissão querem seguir,
mas quase todos sabem o que não querem: não
querem ser professores. Esta
realidade difere muito dos anos sessenta, setenta e oitenta, quando
abraçar a licenciatura e tornar-se professor era uma das primeiras
escolhas dos concluintes. O que mudou tanto em tão pouco tempo?
Basicamente, a falta de valorização da nobre profissão
de educar.
Uma
palhinha de sua trajetória?
Exerci
o cargo de professora de
Ciências e Biologia no Colégio São Luiz (de 1973 a 1986 e de 1996
a 2000); professora de Ensino Fundamental, anos iniciais na Escola
Alberto Pretti na Limeira (1976); professora de Ciências nas Escolas
de Educação Básica Feliciano Pires (de 1975 a 1976); Santa
Terezinha (ano de 1995); Dom João Becker (de 1978 a 1997); sendo que
nesta unidade escolar atuei como Diretora durante os anos de 1990 a
1994. Atuei no Ensino Superior como Coordenadora e professora de
Biologia do curso de Ciências, licenciatura de 1º. Grau e
professora de Biologia Humana, Higiene e Puericultura e Metodologia
para o Ensino de Ciências no curso de Pedagogia durante os anos de
1976 a 2007.
O
que você mudaria - se pudesse - na profissão que exerce?
Na minha profissão sempre lutei para fazer o melhor de
mim. Se não acertei tudo, porque sou somente humana, paciência.
Todavia, meu maior desejo sempre foi o de ver meus alunos terem
interesse em descobrir e construir o conhecimento apresentado e,
sobretudo, sentirem-se felizes por ocuparem a maior parte do seu
precioso tempo de criança, adolescente, jovem ou adulto com a
escola, colégio ou faculdade. Hoje fico muito feliz ao saber que
muitos dos meus ex-alunos fazem parte do sistema produtivo de Brusque
e região nos vários setores, público ou privado, empregados ou
empregadores, profissionais autônomos, enfim, homens e mulheres que,
a seu modo, estão colaborando com a história da humanidade.
Quais
os melhores livros que lá leu?
Em
cada idade um livro marcou-me: Meu Pé de Laranja Lima, O Pequeno
Príncipe, Capitães da Areia, Mulheres da China, O Caçador de
Pipas, A Menina que Roubava Livros, A Última Música, várias
biografias.
O
que está lendo atualmente?
Como eu era antes de você, de Jojo Moyses
O
que você aplica dos grandes educadores, das experiências que teve,
no dia a dia?
Em
minha formação de Mestre em Educação conheci pessoalmente Paulo
Freire. Minha prática docente foi pautada nas obras deste brilhante
educador brasileiro, bem como nas que dele emanaram.
Repensando
o fazer pedagógico no ensino de ciências?
Conforme
já escrevi anteriormente, meu legado para o ensino, se assim posso
falar, é que a aprendizagem se faz através do ato de pensar. Para
mim, não há aprendizagem se o professor não conseguir levar o
aluno a pensar sobre o objeto do conhecimento a ele apresentado. Isto
serve para qualquer ensino e para o ensino de qualquer objeto, de
qualquer conteúdo.
O
que a incomoda?
Incomoda-me
a passividade das autoridades frente à educação e à saúde
públicas. Falo em autoridades porque é delas que emanam as
decisões.
Quais
são as suas aspirações?
Peço
a Deus saúde e vida longa para acompanhar os professores fazendo
concurso para disputar vagas nas escolas públicas. Deste modo as
famílias não precisariam fazer tanto esforço para pagar escolas
particulares e todas as crianças, “inclusive as do norte e
nordeste brasileiros”, teriam acesso à escolarização de
qualidade, uma vez que o que vemos hoje, nestas regiões, é
deprimente. Desejo o dia em que os cidadãos de todas as regiões
deste país sejam atendidos pelo Sistema Único de Saúde, sem demora
e com qualidade de atendimento. Desejo que nossos jovens fiquem no
Brasil e não necessitem procurar trabalho em outro país. Desejo uma
juventude livre das drogas e da insegurança.
Uma
alegria?
Duas etapas de minha vida foram marcadas com uma
alegria incontida: o nascimento de nossos três filhos (Francine,
Caroline e Luiz Gustavo) e o nascimento de nossos três netos –
Helena (5anos), Pedro (4 anos) e Henrique (3 anos).
Qual
o maior desafio que enfrentou até agora?
O maior desafio que enfrentamos foi há quase 6 anos
quando nosso filho Luiz Gustavo recebeu o diagnóstico de LMA
(leucemia mieloide aguda). Doença que afeta os glóbulos do sangue e
que o levou a morte em 21 de junho de 2010. O maior desafio é
continuar vivendo sem um de nossos filhos. Asseguro que somente pela
Fé em Deus e a solidariedade dos familiares e amigos é que estamos
continuando nossa caminhada.
Finalizado,
alguma mensagem?
Depois de falar deste desafio de superar a perda de um
filho jovem de 26 anos, deixo aqui uma mensagem para os jovens.
“Aproveitem suas vidas estudando, trabalhando, divertindo-se,
vivendo com seus familiares e amigos, sem desrespeitar sua própria
vida. Seu corpo necessita de alimento, água e exercício e não de
álcool e drogas lícitas ou ilícitas. Viva intensamente cada
momento e não deixe que a imprudência, nas mais variadas formas,
ceifem sua vida precocemente”.
Publicado no jornal EM FOCO aos 14 de fevereiro de 2014
Bernadete e Edemar
Bernadete com a mãe Emília e as irmãs Claudete e Isolete
Publicado no jornal EM FOCO aos 14 de fevereiro de 2014
Bernadete e Edemar
Bernadete com a mãe Emília e as irmãs Claudete e Isolete
Bernadete com as filhas Caroline e Francine
Como os netos Pedro, Helena e Henrique
Como os netos Pedro, Helena e Henrique
Como os netos Pedro, Helena e Henrique
Como os netos Pedro, Helena e Henrique
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