quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Bernadete de Oliveira Fischer - Mestre em educação


Bernadete de Oliveira Fischer

Mestre em Educação

A entrevistada desta semana é a Mestre em Educação, Bernadete de Oliveira Fischer, nascida em Brusque aos 11 de junho de 1953; filha do saudoso Estevam Augustinho de Oliveira (falecido em 2006, tendo sido vereador durante três legislaturas) e de Emília Floriani de Oliveira (está com 78 anos); cônjuge: Edemar Fischer; filhos: Francine de Oliveira Fischer Sgrott, Caroline de Oliveira Fischer Bacca e Luiz Gustavo de Oliveira Fischer
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Nossa entrevistada a Mestre Bernadete de Oliveira Fischer


Sonho de criança?
Meu sonho profissional sempre foi o de ser professora.

O que sente falta de sua infância?
Minha infância foi muito boa. Vivi no bairro de Santa Terezinha e não sentíamos falta de nada.

Quais as lembranças que têm de sua infância?
Lembro-me das brincadeiras com minhas duas irmãs, primas e amiguinhas no bairro Santa Terezinha. Em cada idade uma brincadeira: bonecas, tic-tac de panos recheados de areia feitos por nossas mães, brincadeira de rodas com cantos, voleibol em um campinho próximo à nossa casa, batida (jogo com bola entre duas equipes), brincadeira de esconder, amarelinha e tantas outras que as crianças de hoje nem imaginam que existiram.

Pessoas que influenciaram?Como escolheu a sua profissão?
Meus pais sempre priorizaram os nossos estudos. Minha mãe gostaria de ter sido professora, porém, na sua infância e juventude estudar era um sonho para poucos realizarem. Assim, estudar sempre foi um prazer para mim. As professoras que tivemos nos anos iniciais, na então Escola Municipal Santa Terezinha, hoje Escola de Educação Básica Santa Terezinha, também muito me influenciaram na escolha profissional. No primeiro e segundo ano tivemos como alfabetizadora a carinhosa e competente Dona Matilde Orlanda Teixeira Pozzi com a qual tive e tenho muita empatia e admiração. A ela devo meu gosto pela leitura e estudo. No terceiro ano tivemos como professora uma também brilhante educadora, a Dona Nadir Schlindwein Morelli, que já se encontra na Casa do Criador e foi ela quem nos mostrou pela primeira vez uma máquina de escrever. No quarto ano tivemos o prazer de ter como professora a Dona Rute de Oliveira Medeiros, paciente, brincalhona, que descortinou para nós as belezas do Rio de Janeiro, como o Pão de Açúcar. Hoje, com a globalização e os meios de comunicação, intensamente usados estas descobertas não fazem sentido a uma criança de sete, oito ou nove anos. A partir do quinto ano e o ensino médio fiz no Colégio São Luiz, cujo diretor era o Padre Orlando Maria Murphy, educador à frente do seu tempo e que orientou minha formação profissional. Destaco como influência na minha escolha duas professoras da área de Ciências: Regina Moritz e Maria Celina Coelho Gonçalvez, esta também está do outro lado. No curso superior de Ciências Biológicas tive vários e bons professores que me fizeram ter certeza da escolha que fiz. Na genética a professora Norma Odebrecht, na zoologia o professor Leandro Longo, na botânica o professor doutor Roberto Klein, cujos fascículos de sua tese de doutorado guardo comigo como presente deste grande botânico, na ecologia o professor Alceu Longo. Tantos outros mestres tive em minha trajetória, todos fazem parte da história de formação desta professora apaixonada pelo ato de educar.

Histórico escolar ?
1960 – 1963 Anos Iniciais na escola Municipal Santa Terezinha; 1964 – 1971 Anos finais e ensino médio Curso Normal (matutino) e Curso de Técnico em Contabilidade (noturno), no Colégio São Luiz; 1972 – 1975 Curso de Ciências Biológicas, na FURB, em Blumenau; 1976 – 1977 Curso de Pós-Graduação em Genética Humana, FURB/UFRGS e 1987 – 1990 Mestrado em Educação, UFSC, em Florianópolis.

Há quanto tempo está formada?
Ciências Biológicas em 1975, Pós-Graduação em 1977 e Mestrado em 1990.
Como conheceu o Edemar?
Conheci o Edemar Fischer nos primeiros dias de aula do curso Técnico em Contabilidade, no Colégio São Luiz, em 1969. Namoramos 5 anos e nos casamos em 19 de janeiro de 1974, portanto, há 40 anos.

Como surgiu Ciências Biológicas em sua trajetória?
A escolha por Biologia deveu-se à minha curiosidade em estudar: a origem dos seres vivos, a influência da genética, os cuidados com o ambiente, os animais, as plantas, ... Defendi em minha Dissertação de Mestrado que as crianças nascem curiosas e investigativas. É preciso que os pais e professores cultivem estas características que irão contribuir para que as crianças gostem da escola e amem estudar.

Fale sobre seu tempo de professora na EEB Dom João Becker
A Escola de Educação Básica Dom João Becker foi a minha segunda casa. Como já disse, iniciei meus trabalhos lá em 1978 e de lá só saí aposentada, em 1997. Foram dezenove anos de muito trabalho e dedicação aos tantos alunos que por lá passaram. Sempre digo que se me fosse dado voltar aos 18 anos, certamente eu escolheria ser professora. Sei que a realização em minha carreira profissional deve-se ao fato de eu sempre ter sido tratada com respeito pelos meus alunos, seus pais e pelos amigos professores com os quais até hoje convivo. No percurso do Dom João Becker atuei como professora de Ciências e Biologia e durante 4 anos fui diretora da escola.

E seu trabalho na Unifebe?
Trabalhei na Unifebe durante 31 anos. Como citei anteriormente, atuei como professora de biologia no Curso de Ciências, licenciatura de 1º. Grau, bem como fui coordenadora deste curso (1976 – 2000). A partir de 1987 atuei como professora de Biologia Humana, Higiene e Puericultura e Metodologia do Ensino de Ciências no Curso de Pedagogia. A partir de 1998 até aumentei minha carga horária na função administrativa na FEBE, sendo responsável pelos projetos de cursos novos, de reconhecimento dos cursos existentes e projeto de transformação da instituição em Centro Universitário de Brusque, Unifebe.

A educação ontem e hoje?
Estudando a História da Educação Brasileira vemos que cada época ou período de nossa história foi e é caracterizada por diferentes modelos - político, econômico, social – e que em cada período, dá-se uma efervescência de ideias que exigem nova metodologia e organização escolar. O surgimento de novas metodologias na educação explica porque alguns pais reclamam que os filhos aprendem menos conteúdos que eles. Nas últimas décadas a organização escolar e a metodologia do ensino tiveram várias mudanças para atender as exigências dos modelos social, econômico e político pelos quais o país passou. Antes os alunos decoravam para serem arguidos e, passavam de ano mediante a reprodução dos conteúdos assimilados. Hoje o ensino contempla a construção do conhecimento. O aluno aprende pensando e elaborando seu próprio conhecimento a respeito dos conteúdos apresentados pelos professores. Hoje todas as disciplinas devem ter ligação entre si. Eu, particularmente, fui alfabetizada pela metodologia da escola tradicional e tive o privilégio trabalhar no ensino fundamental, médio e universitário com uma metodologia construtivista. Hoje e ontem educar é uma arte e como tal deve ser feita por profissionais que amam o que fazem e que usam o diálogo como ponto de partida. O educador dever ter competência técnica e política para poder fazer da escola um lugar aprazível e feliz para ele e para os alunos. Mas acho que ainda não respondi seu questionamento sobre a educação ontem e hoje. Vejo hoje um dos grandes problemas que interferem nas escolas: falta de políticas públicas para a educação que incentivem jovens escolherem a profissão de educador. Quando os adolescentes concluem o ensino médio muitos não sabem qual a profissão querem seguir, mas quase todos sabem o que não querem: não querem ser professores. Esta realidade difere muito dos anos sessenta, setenta e oitenta, quando abraçar a licenciatura e tornar-se professor era uma das primeiras escolhas dos concluintes. O que mudou tanto em tão pouco tempo? Basicamente, a falta de valorização da nobre profissão de educar.

Uma palhinha de sua trajetória?
Exerci o cargo de professora de Ciências e Biologia no Colégio São Luiz (de 1973 a 1986 e de 1996 a 2000); professora de Ensino Fundamental, anos iniciais na Escola Alberto Pretti na Limeira (1976); professora de Ciências nas Escolas de Educação Básica Feliciano Pires (de 1975 a 1976); Santa Terezinha (ano de 1995); Dom João Becker (de 1978 a 1997); sendo que nesta unidade escolar atuei como Diretora durante os anos de 1990 a 1994. Atuei no Ensino Superior como Coordenadora e professora de Biologia do curso de Ciências, licenciatura de 1º. Grau e professora de Biologia Humana, Higiene e Puericultura e Metodologia para o Ensino de Ciências no curso de Pedagogia durante os anos de 1976 a 2007.

O que você mudaria - se pudesse - na profissão que exerce?
Na minha profissão sempre lutei para fazer o melhor de mim. Se não acertei tudo, porque sou somente humana, paciência. Todavia, meu maior desejo sempre foi o de ver meus alunos terem interesse em descobrir e construir o conhecimento apresentado e, sobretudo, sentirem-se felizes por ocuparem a maior parte do seu precioso tempo de criança, adolescente, jovem ou adulto com a escola, colégio ou faculdade. Hoje fico muito feliz ao saber que muitos dos meus ex-alunos fazem parte do sistema produtivo de Brusque e região nos vários setores, público ou privado, empregados ou empregadores, profissionais autônomos, enfim, homens e mulheres que, a seu modo, estão colaborando com a história da humanidade.

Quais os melhores livros que lá leu?
Em cada idade um livro marcou-me: Meu Pé de Laranja Lima, O Pequeno Príncipe, Capitães da Areia, Mulheres da China, O Caçador de Pipas, A Menina que Roubava Livros, A Última Música, várias biografias.

O que está lendo atualmente?
Como eu era antes de você, de Jojo Moyses

O que você aplica dos grandes educadores, das experiências que teve, no dia a dia?
Em minha formação de Mestre em Educação conheci pessoalmente Paulo Freire. Minha prática docente foi pautada nas obras deste brilhante educador brasileiro, bem como nas que dele emanaram.

Repensando o fazer pedagógico no ensino de ciências?
Conforme já escrevi anteriormente, meu legado para o ensino, se assim posso falar, é que a aprendizagem se faz através do ato de pensar. Para mim, não há aprendizagem se o professor não conseguir levar o aluno a pensar sobre o objeto do conhecimento a ele apresentado. Isto serve para qualquer ensino e para o ensino de qualquer objeto, de qualquer conteúdo.

O que a incomoda?
Incomoda-me a passividade das autoridades frente à educação e à saúde públicas. Falo em autoridades porque é delas que emanam as decisões.

Quais são as suas aspirações?
Peço a Deus saúde e vida longa para acompanhar os professores fazendo concurso para disputar vagas nas escolas públicas. Deste modo as famílias não precisariam fazer tanto esforço para pagar escolas particulares e todas as crianças, “inclusive as do norte e nordeste brasileiros”, teriam acesso à escolarização de qualidade, uma vez que o que vemos hoje, nestas regiões, é deprimente. Desejo o dia em que os cidadãos de todas as regiões deste país sejam atendidos pelo Sistema Único de Saúde, sem demora e com qualidade de atendimento. Desejo que nossos jovens fiquem no Brasil e não necessitem procurar trabalho em outro país. Desejo uma juventude livre das drogas e da insegurança.

Uma alegria?
Duas etapas de minha vida foram marcadas com uma alegria incontida: o nascimento de nossos três filhos (Francine, Caroline e Luiz Gustavo) e o nascimento de nossos três netos – Helena (5anos), Pedro (4 anos) e Henrique (3 anos).

Qual o maior desafio que enfrentou até agora?
O maior desafio que enfrentamos foi há quase 6 anos quando nosso filho Luiz Gustavo recebeu o diagnóstico de LMA (leucemia mieloide aguda). Doença que afeta os glóbulos do sangue e que o levou a morte em 21 de junho de 2010. O maior desafio é continuar vivendo sem um de nossos filhos. Asseguro que somente pela Fé em Deus e a solidariedade dos familiares e amigos é que estamos continuando nossa caminhada.

Finalizado, alguma mensagem?
Depois de falar deste desafio de superar a perda de um filho jovem de 26 anos, deixo aqui uma mensagem para os jovens. “Aproveitem suas vidas estudando, trabalhando, divertindo-se, vivendo com seus familiares e amigos, sem desrespeitar sua própria vida. Seu corpo necessita de alimento, água e exercício e não de álcool e drogas lícitas ou ilícitas. Viva intensamente cada momento e não deixe que a imprudência, nas mais variadas formas, ceifem sua vida precocemente”.

Publicado no jornal EM FOCO aos 14 de fevereiro de 2014


Bernadete e Edemar
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 Bernadete com a mãe Emília e as irmãs Claudete e Isolete

Bernadete com as filhas Caroline e Francine
Exibindo 24-DSC_0420.JPGComo os netos Pedro, Helena e Henrique


Como os netos Pedro, Helena e Henrique
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