O entrevistado desta
semana é Marcio Narbal Schlindwein, nascido em Brusque a 20
de abril de 1967. Filho de Nivert Nilton Schlindwein e Eni Vanunci
Schlindwein. Casado há 29 anos com Eliane Roseli Marchi Schlindwein,
apenas um filho:Enzo Marchi Schlindwein.
Torcedor do Clube de
Regatas Flamengo, contrariando o pai e irmãos, todos Botafoguenses.
Curiosamente,
quando criança fui abordado por um flamenguista, em uma venda no
Distrito de Arataca, que me ofereceu um casal de angulistas se eu
virasse rubro-negro. Resumo da ópera: não ganhei os pássaros e
troquei de time. Acertadamente sou achincalhado até hoje, "vendido
por uma galinha-da-angola". Não recebida, para piorar.
Como foi sua
infância ?
Minha infância foi
no interior. Meus pais cuidavam da filial da Casa do Rádio de São
João Batista, que era uma cidade pequena e pacata nos anos 60 e 70.
Cresci correndo atrás de carroça para tirar cana-de-açucar, que ia
para a USATI, usina que dominava a economia local. Depois meu pai
migrou para o ramo madeireiro, com uma serraria no bairro Colônia,
quase em Major Gercino. Aí era estrada de chão, mato, bezerro, o
cheiro da tora recém cortada, os mergulhos na pilha de serragem
fresca, pomboca de querosena à noite, pois não havia luz elétrica.
Gerador, de vez em quando. Lembro bem quando era época de
vaga-lumes, os bandos iluminavam a mata. Nunca mais vi nada
parecido.
Vida escolar?
No ginásio fui
interno no Seminário de Azambuja por um período que não inteirou
um ano, pois não foi uma opção vocacional, e sim uma alternativa
para um estudo mais consistente, que se aprimora com a disciplina
inerente. Mas foi uma boa experiência, com amigos que encontro até
hoje.
Prestei vestibular
para o curso de Licenciatura em Música pela Udesc, em Florianópolis,
para onde me mudei para uma república de estudantes, onde já
residia meu irmão mais velho, hoje biólogo da Universidade Federal
de São Carlos-SP. Na universidade tive contato com grandes mestres,
e envolvimento na cena musical da capital do estado, tocando em
grupos de teatro, festivais, gravações de jingles e como músico de
bares. Tive o prazer de poder viajar para me apresentar em Brasília,
São Paulo, Pelotas, Curitiba e diversas cidades do país. Como meu
curso era no mesmo prédio do de Belas Artes, adquiri o hábito de
visitar museus e exposições, e conhecer outras expressões
artísticas. Foi durante meu período acadêmico que entrei na idade
de me apresentar ao Alistamento Militar, e consegui o impossível:
para tentar não cumprir o serviço obrigatório, fui me alistar em
São João Batista, onde não residia mais, e me informaram que se
encaixaria em "excesso de contingente"; em outras palavras,
se safava da empreitada. Ledo engano. Na metade do ano de 1985,
estava fazendo um estágio pela Universidade em Praia Grande, no sul
do estado, onde a UDESC possuía um Campus, quando recebi uma
correspondência urgente para me apresentar à Junta Militar da
Capital, onde constatei que meu genial plano havia sido obviamente
descoberto. E assim engrossei as fileiras de nossas Forças Armadas
por um ano, na 14ª Brigada de Infantaria Motorizada, em
Florianópolis, até hoje situada num belíssimo local na Rua
Bocaiúva, Quartel General do Comando Militar do Sul, onde encerei
muito o assoalho.
Como retrataria a
experiência militar?
Ao contrário do
que me parecia, a experiência do serviço militar nos apresenta
oportunidades ímpares, seja no convívio, disciplina, organização,
ou mesmo no contato de manejar equipamentos e armamentos específicos.
Como era estudante de nível Superior, servi como Ordenança do
capitão da Companhia e fui liberado para ir a Faculdade na parte da
manhã. Desse período só trago boas lembranças, e amigos que
organizam encontros até hoje. Provavelmente por este episódio,
adquiri interesse pelos conflitos mundiais, nossas Grandes Guerras,
que muitos historiadores afirmam ser uma só, com um intervalo grande
no meio. Fui paulatinamente montando uma pequena biblioteca sobre o
tema, entre meus favoritos "O Piloto de Hitler-A via e a época
de Hans Baur", pois une minha outra paixão, que é a aviação.
Sou plastimodelista aéreo militar estático, ou seja, monto e
reproduzo aviões que participaram do conflito, em esquadras e
períodos específicos, o mais fidedigno possível dentro das minhas
limitações. Em viagens anteriores á Europa visitei alguns locais
emblemáticos na Itália (subterrâneos de Nápoles), Áustria
(Salzburg) e Alemanha (Munique, Nuremberg e Colônia), todos
riquíssimos em acervo e referências.
Quanto ao dia D?
Neste ano de 2019,
completaram-se 75 anos do Dia D, operação gigantesca de desembarque
dos países aliados na tentativa de deter o avanço do nazismo na
Europa. Um enorme contingente de admiradores estaria presente, além
de autoridades e sobreviventes do evento. Com algum planejamento
preliminar, após passar por Portugal e sul da França, desembarquei
em Caen, na Normandia. Havia vindo de Toulouse a Paris em um trem
noturno, em cabine privada com beliches, junto com minha esposa. Da
capital francesa ao nosso destino mais duas horas nos trilhos. Após
nos instalarmos, nossa anfitriã nos informa que teremos que
conseguir um salvo-conduto, um tipo de "passe" para
podermos circular, pois os presidentes americano e frances iriam
estar na cidade, com inúmeras outras figuras e primeiros-ministros
com seus guarda-costas. Após uma tarde de peregrinação na
Prefeitura e Central de Turismo, descobrimos que o passe era apenas
se fossemos visitar as praias do desembarque e locais das cerimônias
no dia 06, o que logicamente abri mão. Helicóptero para lá,
comitiva presidencial para cá, ficamos descobrindo os vinhos e
apreciando o local. No dia seguinte, evento cerimonial no Castelo de
Caen, com gaitas de fole e veteranos. Resumidamente,a cidade foi
profundamente marcada pelo episódio de 1944, pois na época a arma
mais eficaz eram os bombardeios aéreos, que não discriminavam os
alvos. Se era necessário enfraquecer as defesas alemãs em
determinado local, os efeitos colaterais para os residentes eram
terríveis. O preço em vidas humanas foi altíssimo para todas as
partes envolvidas. Alguns locais e igrejas não foram reconstruídos
propositalmente, para se ter uma pequena noção da destruição. Uma
visita ao MEMORIAL DE CAEN é um mergulho reflexivo na história, um
aviso para as próximas gerações evitarem a guerra.
No dia seguinte, as
famosas praias do desembarque, entre elas Omaha Beach e Utah Beach,
todas codinomes usadas para a Operação Overlord. O dia estava
belíssimo, e no Cemitério Americano em Colleville-sur-mer ,
aeronaves que participaram da segunda guerra e frotas modernas faziam
sobrevoos a todo instante. Ao longo do litoral inúmeros veículos
originais do conflito trafegavam, um evento inesquecível e
tranquilo, homenageando um momento de grande sacrifício em
prol da liberdade. Para coroar a programação, a Patrouille
de France, a esquadrilha da fumaça francesa, estava se apresentando
em Longues-sur-Mer, onde estão as baterias costeiras alemãs. Fui
embora com vontade de voltar. Otimo sinal.
Finalizando
Há alguns anos
adotei como hobby o plastimodelismo, ao qual dedico diariamente algum
tempo, considerando que um modelo leva no mínimo 150 horas de
trabalho para ser finalizado. Também concilio com amigos de longa
data o gosto por um estilo musical não muito difundido, porém
extremamente gratificante de executar, o chorinho, e aí se vão
alguns anos de ensaio e diversão, nos encontrando semanalmente.
A passagem do tempo
leva todos à reflexão: porque alguns já partiram, as vezes com
tantos sonhos e responsabilidades? Qual o sentido de toda essa
jornada? Como bom brasileiro, fruto da miscigenação de diversas
culturas, fui apresentado a muitas crenças, da benzedeira ao
Monsenhor; todos tem seu lugar na formação de minha fé e não
descrimino nenhum caminho. O fim é sempre o mesmo, uma luz neste
inevitável túnel que todos estamos atravessando.
Trabalhando há 29
anos na Lanchonete da Rodoviária de Brusque, tento tratar com
respeito funcionários e clientes, como eu gostaria de ser tratado.
Sempre consciente que tenho ainda muito a aprender, tento ser um bom
exemplo para meu filho e um bom companheiro para minha esposa.
Referências: publicado no blog luizgianesinientrevista.blogspot.com.br aos 12 de julho de 2019.
Nenhum comentário:
Postar um comentário