ALEXANDRE AUGUSTO
GIANESINI
MAGISTÉRIO
O
entrevistado da semana é o professor na Unifebe, pós-graduado e
bacharel em direito Alexandre Augusto Gianesini, nascido em
Brusque, aos 03 de julho de 1970, filho do saudoso Aquilino Gianesini
e Wiederkehr Gianesini, casado com Elanir do Nascimento Gianesini.
Quando pode assisti jogos do Botafogo.
Nosso entrevistado
Alexandre Augusto Gianesini
Que matérias
leciona e em quais estabelecimentos de ensino?
Leciono
as disciplinas Língua Portuguesa e Produção de Texto no Colégio
São Luiz; Leitura e Produção no curso de Direito na UNIFEBE e
Língua Portuguesa na E. E. F. Paquetá.
Como
foi sua infância?
Minha
infância foi ótima, com pais presentes
Sonho de criança?
Ser piloto de caça.
Como foi sua
juventude?
Mesmo
sendo de família humilde, posso dizer que tive tudo o que realmente
precisei. Tive bons amigos, professores e outras pessoas que me
ensinaram o que fazer e o que não fazer.
Pessoas
que influenciaram?
Na
minha infância, certamente a correção e a dedicação do meu pai
Aquilino, a alegria e o bom senso de minha mãe Maria.
Formação escolar?
Desde o
início: iniciei os estudos na Escola Básica João XXXIII, depois o
Ensino Médio no Feliciano Pires. Cursei Letras (línguas portuguesa
e inglesa e literaturas brasileira, portuguesa e inglesa) na UNIVALI
e me formei em 93. Fiz pós-graduação em comunicação na FURB em
97. Prestei vestibular e me formei bacharel em Direito em 2004 na
UNIFEBE. Passei na prova da OAB em 2007. Cursei a pós-graduação da
AMATRA na UNIVALI em direito e processo do trabalho em 2007-2008.
Nesse meio tempo, fiz mais de trinta cursos e atualizações em
letras e direito.
Quais as matérias
que mais gostava?
Gosto de todas as
relacionadas ao novo. Por isso gostava de Português pela leitura de
livros; de Geografia por descobrir novos lugares e praticamente
todas.
Quais as que
detestava?
Nenhuma.
Quais atividades
esportivas preferia na escola?
Gostava de esportes e
como era franzino, me saía melhor na corridas. Além minha mãe
Maria era corredora nos primeiros Jogos Abertos e me incentivava.
Como surgiu
Alexandre professor?
O
professor Alexandre surgiu por acaso. Digo isso, porque inicialmente
cursei letras na UNIVALI, pois em 90 não havia jornalismo, que era o
que pretendia. A idéia era cursar dois anos de letras e transferir
para jornalismo, porém dois fatos aconteceram: acabei me
interessando pela profissão de professor e o então Presidente da
República da época, Fernando Collor, desregulamentou a profissão
de jornalista, o que significou dizer que não havia mais a
necessidade de um curso de jornalismo para ser jornalista. Na época,
muitos jornalistas não possuíam o curso, como o Pedro Bial, que é
formado em letras. Com o tempo, a profissão de professor sobrepôs-se
ao interesse pelo jornalismo, porém mantenho o gosto pela escrita.
Quais
alunos demonstram mais interesse: ensino médio ou superior?
No
ensino superior, a maioria dos alunos demonstra mais interesse. Isso
se deve ao fato de que há a consciência de que expressar-se
adequadamente e interagir na sociedade traz inúmeras vantagens. Como
se sabe, o homem é movido por interesses.
Quanto
ao ensino médio, o problema está na disposição do conteúdo.
Infelizmente, e isso a maioria das pessoas não sabe, a nova Lei das
Diretrizes e Bases é extremamente democrática e não estamos
preparados para isso nesse estágio de desenvolvimento. Dessa forma,
não há por parte do governo federal uma diretriz determinando
especificamente os conteúdos a serem trabalhados a cada série. Cada
estado e cada município determinam o que querem; isso quando
determinam. Para complementar o quadro, as esferas da educação
municipal, estadual e federal, sejam públicas ou privadas, não
dialogam entre si para um consenso sobre o que os alunos devem
estudar. O resultado é que as instituições encarregadas do ensino
superior em Santa Catarina, como ACAFE, UDESC e UFSC, acabam por ter
que determinar o que é cobrado no vestibular e as escolas acabam
cumprindo os conteúdos.
Aliado
a esse estado de coisas, temos o sistema brasileiro que apresenta um
único tipo de ensino médio — o de formação básica, o qual não
é um exemplo adequado para o mundo, em termos de eficiência e
eficácia no aprendizado. Por outro lado, na Europa, muitos países
adotam o ensino médio com diversas formações, como a social, a
biológica, a exata, e essa formação permitirá ao aluno o acesso a
um curso superior específico, i. e., a biológica servirá de base
para a medicina, a odontologia, a biologia, etc. A questão é que,
nesse tipo de ensino médio, o estudante decide suas tendências
profissionais já no início dos estudos, a partir dos 15 anos.
Aqui
na nossa cidade, os professores municipais iniciaram novamente a
escolha de conteúdos a serem estudados pelos alunos da educação
básica municipal. Já participei da mesma escolha no início do ano
2000, porém a implementação da proposta não foi levada adiante
pelo poder executivo municipal da época. Quanto ao conteúdo, sou de
uma opinião simples: o aluno deve saber expressar-se com o mínimo
de erros no final do ensino fundamental. Para tanto, ele deve falar,
ler e escrever bastante — trabalho-base de um bom resultado. O
aluno, sabendo claramente o que se espera dele e sabendo que tal
conteúdo será cobrado fora da escola, certamente perseguirá este
objetivo, pois, como disse, o homem é movido por interesses.
Como
está a formação dos nossos estudantes?
Posso
responder pelos dados aos quais tenho acesso. A chamada Prova Brasil
que avalia os nossos estudantes registrou, como nota média dos
alunos de 7a e 8a Séries (8o
e 9o anos) dos ensinos públicos municipal e
estadual de Brusque, uma nota inferior a 5,0 pontos. Esses dados
parecem não ser realmente entendidos pelas pessoas e poderes do
nosso município. Convenhamos é uma média baixa. Se traduzirmos
para uma situação qualquer, significa dizer que de cada 100 coisas
que alguém tem fazer, mais de cinquenta são feitas erradas.
Poderia se dizer que há conteúdos difíceis para os alunos, todavia
a realidade é outra. Há, sim, falta de hábito de estudo. Os alunos
de ensino público, em sua maioria, estudam pouco e possuem menos
aulas que os alunos do ensino privado. Exemplifico com a Língua
Portuguesa: numa escola pública municipal de nossa cidade, a grade
curricular possui quatro aulas; numa escola privada, seis aulas. A
perda de aulas acaba por refletir numa perda de conteúdo. Por outro
lado, imagine você, um empresário de nossa cidade com metas de
produtividade, com estudantes-funcionários com média 7,0 ou 8,0
pontos. Como seria a produção de sua empresa?
Além
disso, a falta de conhecimento interfere na interação social do
indivíduo. É comprovado que as sociedades com mais instrução são
menos corruptas, mais justas e evoluídas e a maioria dos indivíduos
possui maior consciência de como viver em sociedade.
Outro
ponto que deve ser levado em consideração: apesar de faltar leitura
por parte dos estudantes no Brasil, não é possível voltar ao
passado e exigir o estudo somente com livros. Recentemente, a Coréia
do Sul anunciou a substituição dos livros dos estudantes por Ipads.
Com a tecnologia atualmente, pode-se e deve-se utilizá-la como
instrumento para o aprendizado e todos os envolvidos com a educação
devem saber manipulá-la.
Ser
professor atualmente é uma missão espinhosa?
Eu
diria que depende. Se levar em conta somente a remuneração, um
professor de escola privada recebe menos que outra profissão de
nível superior. No entanto este salário representa o dobro das
escolas públicas, mesmo o governo federal alegando que há dinheiro
no Fundeb para municípios e estados, conforme o disposto nos artigos
21 e 22 da Lei nº 11.494/2007.
Se
levar em conta reconhecimento, não é possível agradar a todos, e
não se deve esperar reconhecimento. As pessoas têm dificuldade de
agradecer ou elogiar.
As
dificuldades do dia-a-dia do professor relacionam-se, muitas vezes, à
pouca experiência dos administradores da educação brasileira e das
autoridades envolvidas. Cito a inclusão de crianças com problemas
de aprendizado ou de disciplina e a falta de apoio didático e da
família para o trabalho com elas. Em muitas cidades paulistas, os
Ministérios Públicos e os Conselhos Tutelares trabalham em conjunto
com a escola para a aplicação de penas alternativas a menores
delinqüentes. Além disso, na educação brasileira, muitos
parlamentares acrescentam conteúdos por força de lei, como a lei
que obriga o ensino de música nas escolas, sem levarem em conta a
carga horária e a estrutura existentes. O resultado é menos aulas
de Língua Portuguesa, matemática e ciências — bases para a
universidade.
De
qualquer forma, a profissão de professor atrai por mostrar as várias
perspectivas diferentes a quem está iniciando seu caminho pela vida.
O
estudo da linguagem jurídica é um dos momentos ricos de percepção
da língua como instituição social, enraizada na tradição
cultural que ela reproduz, transmitida de geração após geração.
O que é abordado no ensino da linguagem jurídica?
A
linguagem jurídica enfrenta um embate entre o que há e o que deve
ser feito. Hoje é comum ouvir críticas, principalmente dos meios
universitários, sobre os termos técnicos empregados no dia-a-dia do
meio jurídico. Um grupo alega que tal estrutura serve mais para
aparentar certa complexidade e, portanto, confundir os clientes;
outros crêem que a linguagem deve ser simplificada em vista de
encontrarmos ainda termos latinos em usos. Por outro lado, muitos
termos não são passíveis de simplificação por causa da
complexidade inerente do direito. Quando trabalho os textos jurídicos
com meus alunos, procuro fazê-los compreender que o objetivo
primeiro é esclarecer prontamente os fatos, apresentar o direito e
realizar o pedido ao julgador de forma clara, precisa e concisa. A
linguagem empregada deve seguir a gramática normativa por força de
lei. O estudante, então, acabará por encontrar um ponto de
equilíbrio no uso da linguagem jurídica.
Além
disso, muitos estudantes de direito irão seguir carreiras públicas,
com acesso por meio de concurso público, o que obriga o estudo de
questões de conteúdo gramatical, como pontuação, concordância e
regência, e de interpretação de texto.
As
leis são feitas com palavras, como as casas são feitas com tijolos.
O jurista, em última análise, não lida somente com fatos,
diretamente, mas com palavras que denotam ou pretendem denotar esses
fatos. Há, portanto, uma parceria essencial entre o Direito e a
Linguagem?
Sim.
O direito, por exemplo, pode ser líquido e certo e ocorrer risco de
dano; entretanto, se um texto for mal redigido, a medida cautelar não
dará o resultado esperado. O julgador se prende ao que há nos
autos, aí aquela máxima dos cursos de direito “O que não está
nos autos não está no mundo.”
Se
não fosse professor?
Possivelmente
teria uma profissão relacionada à escrita.
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