segunda-feira, 29 de abril de 2019

Tatiana Bissoni Vhoss - Analista Judiciária

A entrevistada desta semana é Analista Judiciária do Tribunal Regional Federal da 4ª Região - cargo de nível superior e de ingresso mediante concurso público -  função de Diretora de Secretaria da 1ª Vara Federal de Brusque/SC desde 09/12/2005 quando a Unidade foi instalada em Brusque - Tatiana Bissoni Vhoss, nascida em Brusque aos 06 de setembro de 1973; filha de Tarciso Bissoni e de Lenir Igneis Bissoni; casada com Moser Vhoss desde 06/09/1999 -atualmente ele ocupa o cargo de Juiz Federal da 1ª Vara Federal de Itajaí; dois filhos: Guilherme Bissoni Vhoss, com 13 anos e Henrique Bissoni Vhoss, com 8 anos. Esporte predileto: pratica corrida de aventura, natação e yoga.



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Como foi sua infância?
Minha infância passou muito tranquila e divertida, no bairro Dom Joaquim, em Brusque. Cresci ao lado da família, stricto sensu (meus pais e irmão) e lato sensu (avós, tio e primos), no bairro Dom Joaquim. Morávamos em frente ao colégio, onde completei o ensino fundamental e na mesma rua da Igreja, a Paróquia Santa Catarina.
O lar  e a família são sempre a referências dos momentos felizes.
Minha família materna - Fachini, morava do lado esquerdo da nossa casa e a minha família paterna - Bissoni, do lado direito da nossa casa. Assim, a convivência era diária.
A família sempre foi muito religiosa e ativa na comunidade.


O que lembra com carinho de sua infância
Lembro com muito carinho dos amigos, vizinhos e primos, especialmente das brincadeiras na rua onde morávamos. Era uma rua sem saída,  que se transformava em playground para brincadeiras com bicicleta, corridas, bolas de gude e jogos de voleibol. Fechávamos a rua para atravessar a rede de vôlei. Por vezes a bola caía em uma valeta e causava a comoção geral para corrida de resgate antes de alcançar o rio Itajaí Mirim, que passa nas proximidades.
Passei muito tempo em cima das árvores, com joelhos e cotovelos ralados, tantas eram as peraltices.
Gostava muito da convivência na casa dos meus avós. Passei bastante tempo com eles, quando meus pais viajavam a trabalho para todo o Brasil. Muitas vezes minha mãe o acompanhava, para cuidar da sua alimentação e da sua saúde. Nas férias escolares eu podia viajar com eles, especialmente para o Mato Grosso, para onde grande parte da minha se mudou na década de 1980, buscando desenvolver e ampliar o trabalho na área de transportes e agronegócios.
O ponto alto das férias escolares era passar os dias na praia, em Balneário Camboriú, onde meu avô Vicente Bissoni sempre manteve alguma propriedade. Nessa época, não havia tantos edifícios e o mar era cristalino.

Como foi sua juventude?
Ingressei no mercado de trabalho aos 18 anos, na mesma época do início da graduação. E o trabalho passou a me gratificar com excelentes possibilidades de aplicação de tudo o que vinha estudando teoricamente na universidade. O primeiro trabalho foi na Companhia Industrial Schlosser, em seguida na Tecelagem Atlântica e grupo Botuverá - empresa da famílila Bissoni. Também no Fórum da Comarca de Brusque, na assessoria da 2ª Vara Cível. Exerci a advocacia por ano e em seguida ingressei por concurso na Justiça do Trabalho, onde trabalhei por 3 meses na 3ª Vara do Trabalho de Blumenau. Com a inauguração das novas Unidades da Justiça Federal em Blumenau, entrei em exercício pelo concurso da Justiça Federal, onde permaneço até os dias de hoje.
De tal modo, minha juventude foi pautada por muitos estudos e trabalho. Um pouco de diversão também, certamente. Frequentava as animadas tardes dançantes que aconteciam aos domingos a tarde, no salão da paróquia Santa Catarina, com as famosas Banda S/A, Incandecentes e 4ª Redenção, mas sempre com horário designado para voltar para casa, 18h ou 19h. Mais tarde, com a maioridade, com a CNH e um pouco mais de independência evoluímos para buscar um pouco de diversão em Balneário Camboriú, no divertido e bacana Baturité, o antigo.

Como conheceu o esposo?
Conheci o Moser no início da faculdade, quando íamos de ônibus da empresa Geneve Turismo para a Itajaí. Cursávamos Direito na UNIVALI, ele no quinto período e eu no terceiro. Iniciamos o namoro em 1993 e  não paramos mais...até o casamento em 1999, após o término dos estudos.

Histórico escolar ?
Fui muito dedicada e estudiosa.
Estudei inicialmente no Jardim de infância Tia Trude, desde a sua instalação.
Em seguida, no Colégio Estadual Monsenhor Gregório Locks, concluí o ensino fundamental.
No Colégio Cônsul Carlos Renaux, frequentei a primeira e segunda séries do ensino médio, concluindo-o no Colégio Geração, em Florianópolis, cursando o terceirão.
Graduei-me em Direito, na Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI, em Itajaí.
Especializei-me em Direito do trabalho na FURB, em Blumenau e em Direito Processual Cível pela Escola da Magistratura Estadual de Santa Catarina - Esmesc.
Recentemente tive a oportunidade de concluir o Mestrado em Ciência Jurídica, na Univali.
Participei de muitos cursos e congressos na área jurídica- curriculum completo pode ser visualizado na plataforma lattes.
Foram muitas conquistas ao longo dessa jornada, porém a mais recente está no lançamento próximo da obra
Controle Judicial sobre as Promessas da Constituição, de minha autoria e produção da Editora Appris, de Curitiba.

Quais matérias mais gostava/? Quais detestava?
Gostava de biologia, nunca gostei muito de matemática, porém adoro literatura, história, filosofia e direito.

Primeiro/a professor/a?
Primeira professora foi Dona Olga Marcolla Wisbeck, no primeiro ano no Colégio Estadual Monsenhor Gregório Locks. Era uma professora tão amada que lideramos um movimento para que ela continuasse conosco no segundo ano. E o resultado foi positivo.

Grandes professores?
Foram muitos, muitos.
Mas os faço representar pelos meus maiores professores da escola da vida, pelos seus ensinamentos de valor, ética, fé, persistência, humanidade e generosidade - Tarciso Bissoni, meu pai e Lenir Igneis Bissoni, minha mãe.
Quais os melhores livros que leu?
Jan Paul Sartre - Os caminhos da liberdade
Thomas Hobbes - Utopia
Fiódor Dostoivéski - Crime e castigo
Frans Kafka - O processo
Meu pé de laranja Lima - José Mauro de Vasconcelos
A morte é um dia que vale a pena viver - Ana Claudia Quintana Arantes
Dom Casmurro - Machado de Assis
E muitos outros...

Não consigo parar de relembrar de tantos obras maravilhosas, também na área jurídica, como:
Montesquieu - O Espírito das Leis
Rui Barbosa - Oração aos moços
Norberto Bobbio - A era dos Direitos
Ronaldo Dworking - Levandos os Direitos a Sério
Luis Roberto Barroso - Temas de Direito Constitucional
Antonie Garapon - O Guardador de Promessas
Konrad Hesse - A força normativa da Constituição
Jurges Habermas - Direito e Democracia: entre facticidade e validade
Moser Vhoss - Dano Moral e Improbidade Administrativa

O que está lendo atualmente?
Tenho o hábito de ter várias leituras em andamento, de modo que os atuais são:
Boaventura de Sousa Santos- A  crítica da razão indolente. Contra o desperdício da experiência
Verde Vale - Urda A. Klueger
Imortais - Tecedendo História
Ernest Hemingway - O sol também se levanta
Fábio Vuolo - Um giono in piú
Adélia Prado - Bagagem

Como surgiu a Justiça Federal em sua trajetória?
Prestei concurso para a Justiça Federal em 1998 para o cargo de analista judiciária, nível superior.
Inicialmente exerci a função de Oficial de Gabinete em Blumenau, para onde viajava todos os dias durante 3 anos e seis meses.
A partir de 2002, iniciei o exercício da função de Diretora de Secretaria de Vara Federal, inicialmente em Joaçaba e depois em Brusque, com a instalação da 1ª Vara Federal de Brusque, em 09/12/2005.
É uma função muito importante sob o ponto de vista da sua competência para a gestão de processos que possibilita alcançar
o cumprimento de metas e prazos processuais, observando sempre e principalmente todos os princípios constitucionais e legais.


Umas palavrinhas sobre:
Tarciso Bissoni, meu pai.
Com olhar sempre empático para ajudar o próximo, trabalhador e honesto, sua generosidade e sabedoria não cabem em si.
Filho primogênito de Vicente Bissoni, iniciou o trabalho muito cedo, na agricultura familiar.
Muito inteligente e visionário, trabalhou com caminhões, inicialmente com o caminhão do pai, em seguida com os seus próprios,  sozinho ou com o auxílio de motoristas empregados. No ano de 1975, fundou a empresa Transportadora Bissoni Ltda, juntamente com seus dois irmãos Vilymar e Glomir. Muito peculiar foi a fundação da empresa e essa parte da história que pode ser encontrada no livro Posso dizer que andei.
A empresa cresceu. Mudou sua sede para o município de Rondonópolis, Mato Grosso, compondo atualmente o grupo Botuverá.
Tarciso sempre residiu e reside no município de Brusque, com sua esposa Lenir Igneis Bissoni, e seus dois filhos Tatiana e Vicente Neto. Atualmente possui três netos, Guilherme e Henrique, filhos de Tatiana e Moser e Alice, filha de Vicente Neto e Eliana.
Avós paternos
Vicente Bissoni, meu avô paterno.
Casado com Juvita Bissoni, tiveram sete filhos vivos.
Vicente partiu no ano 2003, mas nos deixou muitos legados. Sempre foi muito ativo e dinâmico e ao longo de sua jornada colecionou realizações. A maior delas foi o amor à família e a união dos filhos em netos em torno de sua mesa. Na sua casa nunca faltou apoio, alegria, música - quando ele tocava a sanfona -  cerveja kaiser e vinho suave, pois se fosse seco ele acrescentaria aç
úcar.
Foi proprietário de um sítio forte na localidade de Ribeirão do Ouro, município de Botuverá, onde cultivava o fumo, além da agricultura de subsistência, em reguime de economia familiar. Com o crescimento da produção de fumo na região, na década de 1950, ingressou na Companhia Souza Cruz para ser instrutor de lavoura de fumo. Foi muito respeitado na comunidade, como líder.
Decidiu mudar-se para cidade de Brusque, no bairro Dom Joaquim quando visualizou que a propriedade que poss
uía em Botuverá seria pequena demais para abrigar todos os sete filhos e lhes proporcionar estudo e trabalho digno e promissor.
Recomendo muito a leitura do livro Posso Dizer que Andei, que descreve muitas das suas aventuras.
fale sobre seus avôs maternos
Avó maternos - Vicente Fachini e Ida Zenlinda Fachini.

Descentes de Italianos, moravam em Botuverá, depois em Dom Joaquim, em frente a minha casa de infância. Vicente era motorista de caminhão, e nessa profissão alcançou a aposentadoria. Sua propriedade em Dom Joaquim era satisfatória, o que facilitou o cultivo de muitos produtos para subsistência da sua grande família de sete filhos. O cuidado dos filhos, da casa  e da agricultura ficava ao encargo da matriarca, Ida, com o auxílio dos filhos que já cresciam.
Dona Dida, como era conhecida em Dom Joaquim, nos deixou muito cedo. Aos 65 anos de idade, não acordou de uma despretenciosa noite de sábado, quando deitou após ter participado da tradicional missa.
Vicente Fachini viveu bem mais, até o alzeihmer lhe alcançar, em 2012.
Cinco dos filhos vivem na mesma localidade. Uma filha reside atualmente na Itália, desde quando partiu em busca do resgate histórico de nosso antepassado Celeste Fachin, que nos estendeu a sua cidadania italiana.
E a filha caçula reside em Concórdia, Santa Catarina, onde trabalha no tabelionato de notas e protestos de titularidade de seu esposo.
o que poderia dizer sobre os bisavôs?
Netos de imigrantes italianos que viveram em um tempo de muitas dificuldades. As famílias foram numerosas e o trabalho árduo para superar as necessidades e progredir, garantindo aos descendentes vida digna e segura.
Viveram do comércio, do transporte, da agricultura. O trabalho, a generosidade, a fé, a humanidade e a vida em comunidade, fizeram com que essas família superassem todos os entraves daquele tempo.
Tive a oportunidade de conhecer apenas a minha bisavó paterna, Maria Comandolli, mãe de minha avó Juvita Bissoni. Nona Comandolli viveu até o ano de 1992, quando faleceu aos 92 anos de idade.
A casa onde ela viveu e morreu, no bairro Dom Joaquim,  atualmente funciona o comércio de alimentos de seu neto João César Comandolli e demonstra a arquitetura da época.
Sobre a propriedade  incide discussão acerca da viabilidade de seu tombamento, pelo valor histórico, cultural, arquitetônico e ambiental para a população, no intuito de impedir que venha a ser destruído ou descaracterizado.
Como você resumiria a pegada para a publicação de “POSSO DIZER QUE ANDEI – A História da Família Bissoni” ? Houve muitas dificuldades?
Foi um trabalho que fluiu muito facilmente a partir da concretização da ideia de resgatar e registrar os fatos históricos da família desde a  Itália.
Foram dois anos de pesquisas, viagens, entrevistas, edições e muitas emoções. Reviver o passado e imaginar as dificuldades trilhadas por nossos antepassados,  imigrantes italianos, que partiram tão jovens da sua terra natal com destino a colônia Itajahy - príncipe Dom Pedro, foi bastante intenso.
A sua chegada na nova terra para construir as suas casas no interior da mata, na margem do rio, onde a presença dos indígenas era constante, foi assustador.
Mas a pesquisa seguiu, de geração em geração, até os descendentes em sexto grau, que são os meus filhos.
Todos os desafios enfrentados por cada núcleo familiar, não apenas a viagem - sem volta - da Itália para o Brasil, mas também a mudança de Botuverá para Brusque e de Brusque para Rondonópolis, no Mato Grosso.
A obra narra a história de uma família que não abandonou na estrada a fé, a persistência, o trabalho honesto e a gratidão a todas as pessoas que estiveram presentes em suas vidas.


Como surgiu “POSSO DIZER QUE ANDEI - A História da Família Bissoni”?
Surgiu com a ideia e o interesse do meu pai, Tarciso Bissoni, de resgatar e preservar a história dos nossos antepassados.
Tarciso manifestava a preocupação real de estarem passando as gerações que detinham o conhecimento da historia. Que chegaria o dia em que ninguém mais teria lembranças para contar às gerações futuras.
Com o auxílio e experiência do Saulo Adami, pudemos andar mais longe e voltar ao tempo da imigração do nosso ascendente mais antigo, Cesare Bissoni, que aos 19 anos de idade, emigrou da Italia para  Brasil - era o ano de 1878...

Como lembraram de Saulo Adami?
Entrei em contato com o Saulo por já conhecer o seu trabalho e obras publicadas.
Nos reunimos e facilmente nos envolvemos e nos engendramos no projeto. Logo as entrevistas e viagens iniciaram-se. A pesquisa foi tomando forma e ganhando volume. Foi um belo trabalho que fluiu levemente pela sua competência e conhecimento.



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