Kátia Maria Costa
A entrevistada desta semana é a Bibliotecária Kátia Maria Costa
Uma apresentação
Nasci em Florianópolis em uma primavera de 1971, filha
de Tomaz Manoel Costa e Maria Alaide Costa, “adotada” aos 6 anos
por Valdir Cordeiro pai de coração, tenho duas lindas filhas Ingrid
(22) e Marina (13), casada a 20 anos com Marcelo Bombeiro Militar na
grande Florianópolis, reside em São José cidade localizada a 90 km
de Brusque. Formada em Biblioteconomia – com Habilitação em
Gestão da Informação pela Universidade do Estado de Santa Catarina
– UDESC e pós graduanda em Gestão de Bibliotecas Escolares na
Universidade Federal Santa Catarina. Ocupo o cargo de Bibliotecária
na Fundação Cultural de Brusque no setor Biblioteca Pública
Municipal Ary Cabral. Atualmente é presidente da Associação
Catarinense de Biblioteconomia – ACB, com sede em São José.
Estou
muito contente com a profissão, escolhi Biblioteconomia em um
momento que precisava voltar a estudar e acreditei que seria bom,
venho de família simples, pai e mãe servidores estaduais e queria
seguir o serviço público, acredito que trabalhamos para servir a
população e assim segui o caminho para isso, estudei para concursos
públicos e um ano após formada passei para Brusque.
Tenho
um dia a dia corrido, nas idas e vindas pelas estradas com o
itinerário São José – Brusque – São José, alguns dias fico
em Brusque para poder ocupar o tempo de estrada, o trabalho na
biblioteca é de oito horas e a noite aproveito quando estou aqui
para estudar e ler, nos dias que estou em casa aproveito o rotineiro
de uma casa, dar carinho para as filhas, colocar conversa em dia com
o marido, estudar, no verão muita praia.
Fale
de sua trajetória profissional até hoje
Trabalho
desde muito cedo, comecei com 15 anos como estagiária e depois
busquei o comércio, antes da faculdade trabalhei oito anos em uma
famosa joalheria de Florianópolis, quando resolvi voltar aos estudos
trabalhei na Biblioteca do Tribunal de Justiça de SC como
contratado durante quatro anos, após formada fui chamada para a
Escola Técnica Geração como bibliotecária, fiz alguns concursos
incluindo o de Brusque realizado em 2009, em março do ano seguinte
fui chamada para começar a trabalhar e aqui estou desde então.
Quais
são as atividades de um(a) bibliotecário(a)?
O
bibliotecário é um profissional da informação pode planejar,
implementar, coordenar, controlar e dirigir unidades de
informação/bibliotecas e unidades de serviços, escritórios de
advocacia, centros de informação, arquivos, centros médicos,
empresas e todo espaço que tenha necessidade de organização,
controle e recuperação da informação, empresas públicas ou
privadas. Em caso específico de bibliotecas podemos trabalhar em
bibliotecas particulares, universitárias, públicas e escolares
estas últimas com um público bem diversificado onde também
trabalhamos ações educativas de incentivo leitura e a pesquisa
além de ações culturais que pode proporcional ao público em geral
lazer. A profissão é reconhecida desde 1962 e conta com Conselho
Federal, Estaduais, Associações e Sindicatos que regulam,
fiscalizam e integram os profissionais da área. Em Santa Catarina
temos duas universidades que mantêm o curso graduação,
especialização, mestrado e doutorado na UFSC e UDESC.
Falando
um pouco da Biblioteca Pública Municipal Ary Cabral, que tem este
nome segundo histórias ainda não registradas, em homenagem a
Oswaldo Rodrigues Cabral, historiador e médico, como este ainda era
vivo na época da criação da biblioteca 1963/64 foi colocado o nome
do pai do homenageado. São 51 anos de histórias e muitas andanças
desde a chegada na Praça da Cidadania.
Como
está dividida a biblioteca?
Hoje
a Biblioteca é subordinada a Fundação Cultural, com subsetores
onde temos o espaço em Braille, a Biblioteca Infanto juvenil, Acervo
Geral, Processamento Técnico e de Referência.
Que
faixas etárias costumam visitar e requisitar os livros?
Atendemos
todos os públicos a partir de 2 anos, bebês são bem vindos também,
mas tem mãe que não lembra de levá-los (risos), adolescentes,
jovens, adultos, idosos, na verdade a biblioteca é de todos, as
pessoas tem que aprender a se apropriar do que é seu, é aberta a
toda a comunidade de Brusque e região, porque também atendemos
escolas e usuários que vem de Guabiruba e Botuverá.
Quantos
funcionários existem e que funções desempenham nesta biblioteca?
Estamos
com uma bibliotecária, um servidor responsável pelo setor Braille e
que também nos ajuda no atendimento da recepção e telefone, três
estagiários de nível médio e um contratado no setor de
atendimento.
Que
livros são mais requisitados pelos leitores ?
Nosso
público é diversificado, crianças são exigentes, não se engane
elas tem um gosto apurado e sabem o que é bom, adolescentes estão
nas sagas, trilogias o que está na “moda”, jovens e adultos
procuram literatura, livros técnicos também são procurados, e
idosos gostam muito de clássicos. Alguns já vem com listas
preparadas outros, os chamados ratos de biblioteca, gostam de ficar
entre as estantes vasculhando para ver se tem novidade, abrir o
livro, degustá-lo. A biblioteca é muito frequentada atualmente por
conta da localização e outros atrativos como wi-fi, ar
condicionado, computadores para pesquis, as pessoas adentram ainda
com “medo”, mas aos poucos vão verificando que é um espaço
público que tem que usar e cuidar, por isso nosso público está
cada vez mais variado.
Trabalhando
como bibliotecária você já deve ter presenciado diversas
transformações em pessoas através da educação. Como você define
a importância de uma boa biblioteca em escolas, faculdades ou outros
centros de estudo?
As
bibliotecas são indiscutivelmente importantes na educação de uma
pessoa, o convívio com o mundo das letras é importante para a
formação do indivíduo como cidadão, você já viu alguém (que
não seja autodidata) evoluir, financeiramente, intelectualmente que
não seja através do estudo? A pessoa que insere a leitura em sua
vida consegue não só ler e escrever melhor, ela consegue pensar,
questionar , dialogar melhor. É gratificante
você ver uma pessoa que passou tardes estudando na biblioteca, nos
informar que passou em um concursos ou um aluno que passou no
vestibular após ler todos os títulos sugeridos pela universidade
que estão disponíveis para empréstimos, ou aquele pesquisador que
concluiu sua pesquisa agradecer pois o material encontrado foi muito
relevante, os pequenos que veem a biblioteca com “um lugar mágico”
ou “um lugar digno de um rei”, sim ouço isso e fico maravilhada,
ver adolescentes vibrando quando àquele livro que ele esperava
chegou ou quando àquele livro que só tem um exemplar e tem um fila
de espera enorme está disponível para o empréstimo e os idosos
então, quando informamos que o título novo do autor que eles já
leram toda a coleção foi comprado, isso é mágico.
É
preciso que os gestores públicos vejam esta importância também,
falo como um todo e não só para Brusque, as bibliotecas
universitárias são regularmente fiscalizadas pelo MEC e tem
critérios
rígidos para que estes espaços atendam bem a demanda de alunos.
Mas as Bibliotecas Escolares ainda tem um fiscalização tímida,
para não dizer quase nula, estes
espaços tem uma função importante no processo de
ensino-aprendizagem dos alunos, uma biblioteca escolar bem
estruturada com profissional especializado faz toda a diferença
neste processo, os professores e coordenadores devem exigir que
estes espaços façam parte da vida diária da escola, assim como os
pais e alunos devem exigir a existência da biblioteca ativa, não
aquela do “faz de conta”, tem no “cantinho” aquela “salinha”
que está fechada no horário da entrada, no recreio e na saída e o
aluno só pode ficar ali se o professor levar. Temos que pensar que
para o indivíduo conhecer outros tipos de bibliotecas: jurídicas,
especializadas, públicas será uma consequência do que foi
apresentado na escola, com a evasão escolar que ainda temos no
Brasil, provavelmente a biblioteca escolar seja a única biblioteca
que o aluno conheça no passar de sua vida, se o aluno for
apresentado a um espaço fechado, sem acervo, sem profissional, não
vai querer saber de bibliotecas, nem de leitura, nem de pesquisa,
será tudo um ciclo.
Dia 12 de março em que se comemora o profissional bibliotecário. Você acha que o bibliotecário é devidamente reconhecido?
Ainda
somos vistos como guardadores de livros, muitas pessoas pensam que
todos que estão trabalhando em uma biblioteca são bibliotecários e
esquecem que assim como outros profissionais tem que ter uma
graduação em biblioteconomia. Foi o tempo em que os bibliotecários
estavam somente em bibliotecas, trabalhamos como gestores e
disseminadores de informação e há muitas empresas, escritórios de
advocacia, imobiliárias, hospitais nos vendo com outros olhos,
procurando bibliotecários para trabalhar na gestão de documentos.
Com o advento das novas tecnologias e da globalização que tanto se
fala, as pessoas tem pressa, querem a informação cada vez mais
rápida, precisa, confiável e o bibliotecário é o profissional que
pode ajudar em todo este caos. O livro não chega até uma estante
sozinho, você o encontrar se tiver somente uma estante de livros,
mas e se você tem cinquenta estantes, como achar? Assim acontece
com a informação, as pessoas tem que saber que o profissional
bibliotecário é um profissional da informação em qualquer suporte
que ela esteja.
O
que você acha que é mais legal no seu trabalho?
Posso
dizer que gosto de tudo? Passei por vários setores quando trabalhei
no TJSC e aprendi muito com as bibliotecárias de lá, eram nove,
cada uma com um perfil, uma tarefa específica, hoje utilizo o que
aprendi, no atendimento, no processamento técnico, nos projetos
culturais, nas parcerias que fechamos, até porque, como ainda não
temos outro bibliotecário para dividir responsabilidades, acabo
respondendo por todas.
Para
além da leitura que outras atividades podemos encontrar?
Em
uma Biblioteca Pública existe muito potencial de projetos, o que não
falta é vontade, o que falta são outras coisas, mas esta é uma
conversa longa. Hoje temos o empréstimo de livros e gibis, o Vamos à
Biblioteca, voltado as escolas municipais, estaduais e particulares,
auxiliamos no projeto do Ponto de Leitura, mantemos a Estante
Saudável na Policlínica, atendemos cegos e baixa visão e
pretendemos mais em 2015.
Por
ser bibliotecária, você conhece muitos livros?
Há
um estigma que bibliotecário lê muito, na verdade todo mundo
deveria ler muito. Quando trabalhamos em uma biblioteca o que menos
se faz é ler, a leitura por prazer é somente após o trabalho, nós
bibliotecários não conhecemos muitos livros, mas muitos assuntos,
através do livro que lemos, do usuário que nos fala sobre o livro
que leu e principalmente no processamento técnico, onde o livro
deve ser investigado – o autor, o título, o assunto - e outras
informações que são relevantes para sabermos como recuperá-lo, na
verdade é um aprendizado constante. Sempre aparece usuários com
assunto ou termo diverso para pesquisar e na pesquisa acabamos
aprendendo sempre.
Você
acha que livros impressos serão sempre valorizados ou já sofrem com
a era da internet?
Há
uma discussão entres estudiosos, autores e até o senso comum de que
o livro impresso vai acabar e tal, mas pelo que tenho lido e
pesquisado há uma tendência muito grande da retomada do livro
impresso, até mesmo entre adolescentes que tem um perfil mais
tecnológico, estão preferindo os livros impressos para poder trocar
com os amigos, levar para qualquer lugar sem ter que pensar que
acabou a bateria, a internet é muito mais para os textos curtos,
informações instantâneas, rede de comunicações, material técnico
do tipo artigos científicos em grandes bases de dados, mas o livro
impresso ainda vai persistir por muito tempo, pode-se perceber até
pelos muitos livros que são publicados anualmente, alguns são
disponibilizados digitalmente, mas em sua maioria não deixa de
ser impresso.
O que você acha dos livros on-line (e-books e audiolivros)?
O que você acha dos livros on-line (e-books e audiolivros)?
Os
E-books estão ai, os conheci faz algum tempo, achei incrível
aqueles aparelhos que tu compra/baixa os livros e se quiser e tiver
dinheiro, tem uma biblioteca inteira ao seu dispor. Tem a vantagem
da portabilidade e alguns já são acessíveis no mercado e os
valores dos livros são muito menores que os impressos pelo baixo
custo de produção , outros podem ser baixados pela internet,
aqueles que são domínio público ou disponibilizados pelos autores
com licença aberta. Algumas bibliotecas no Brasil, principalmente as
universitárias já estão com uso de e-books em seu acervo, mas
ainda não é uma realidade totalitária, no Brasil temos ainda um
percentual de pessoas que mal leem e se leem mal sabem interpretar, a
tal falta de letramento informacional, como então terão e-books se
nem o impresso tem a capacidade de ler e entender? São questões
preocupantes em nossa área, sim, digo nossa por ser de todos que
estão ligados a educação e todos as pessoas engajadas em um país
melhor deveriam estar ligados a educação. Quanto ao
audiolivro vejo como uma necessidade para cegos e baixa visão já
que nem todas as pessoas com estas deficiências conseguem aprender o
Braille por diversos motivos e até porque a impressão deste tipo de
suporte tem ainda um valor elevado.
Entrevista publicada no Jornal Em Foco aos 30 de janeiro de 2015
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