terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Kátia Maria Costa


Kátia Maria Costa

 
A entrevistada desta semana é a Bibliotecária Kátia Maria Costa


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Uma apresentação
Nasci em Florianópolis em uma primavera de 1971, filha de Tomaz Manoel Costa e Maria Alaide Costa, “adotada” aos 6 anos por Valdir Cordeiro pai de coração, tenho duas lindas filhas Ingrid (22) e Marina (13), casada a 20 anos com Marcelo Bombeiro Militar na grande Florianópolis, reside em São José cidade localizada a 90 km de Brusque. Formada em Biblioteconomia – com Habilitação em Gestão da Informação pela Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC e pós graduanda em Gestão de Bibliotecas Escolares na Universidade Federal Santa Catarina. Ocupo o cargo de Bibliotecária na Fundação Cultural de Brusque no setor Biblioteca Pública Municipal Ary Cabral. Atualmente é presidente da Associação Catarinense de Biblioteconomia – ACB, com sede em São José.
Estou muito contente com a profissão, escolhi Biblioteconomia em um momento que precisava voltar a estudar e acreditei que seria bom, venho de família simples, pai e mãe servidores estaduais e queria seguir o serviço público, acredito que trabalhamos para servir a população e assim segui o caminho para isso, estudei para concursos públicos e um ano após formada passei para Brusque.
Tenho um dia a dia corrido, nas idas e vindas pelas estradas com o itinerário São José – Brusque – São José, alguns dias fico em Brusque para poder ocupar o tempo de estrada, o trabalho na biblioteca é de oito horas e a noite aproveito quando estou aqui para estudar e ler, nos dias que estou em casa aproveito o rotineiro de uma casa, dar carinho para as filhas, colocar conversa em dia com o marido, estudar, no verão muita praia.


Fale de sua trajetória profissional até hoje
Trabalho desde muito cedo, comecei com 15 anos como estagiária e depois busquei o comércio, antes da faculdade trabalhei oito anos em uma famosa joalheria de Florianópolis, quando resolvi voltar aos estudos trabalhei na Biblioteca do Tribunal de Justiça de SC como contratado durante quatro anos, após formada fui chamada para a Escola Técnica Geração como bibliotecária, fiz alguns concursos incluindo o de Brusque realizado em 2009, em março do ano seguinte fui chamada para começar a trabalhar e aqui estou desde então.

Quais são as atividades de um(a) bibliotecário(a)?
O bibliotecário é um profissional da informação pode planejar, implementar, coordenar, controlar e dirigir unidades de informação/bibliotecas e unidades de serviços, escritórios de advocacia, centros de informação, arquivos, centros médicos, empresas e todo espaço que tenha necessidade de organização, controle e recuperação da informação, empresas públicas ou privadas. Em caso específico de bibliotecas podemos trabalhar em bibliotecas particulares, universitárias, públicas e escolares estas últimas com um público bem diversificado onde também trabalhamos ações educativas de incentivo leitura e a pesquisa além de ações culturais que pode proporcional ao público em geral lazer. A profissão é reconhecida desde 1962 e conta com Conselho Federal, Estaduais, Associações e Sindicatos que regulam, fiscalizam e integram os profissionais da área. Em Santa Catarina temos duas universidades que mantêm o curso graduação, especialização, mestrado e doutorado na UFSC e UDESC.

Falando um pouco da Biblioteca Pública Municipal Ary Cabral, que tem este nome segundo histórias ainda não registradas, em homenagem a Oswaldo Rodrigues Cabral, historiador e médico, como este ainda era vivo na época da criação da biblioteca 1963/64 foi colocado o nome do pai do homenageado. São 51 anos de histórias e muitas andanças desde a chegada na Praça da Cidadania.
Como está dividida a biblioteca?
Hoje a Biblioteca é subordinada a Fundação Cultural, com subsetores onde temos o espaço em Braille, a Biblioteca Infanto juvenil, Acervo Geral, Processamento Técnico e de Referência.
Que faixas etárias costumam visitar e requisitar os livros?
Atendemos todos os públicos a partir de 2 anos, bebês são bem vindos também, mas tem mãe que não lembra de levá-los (risos), adolescentes, jovens, adultos, idosos, na verdade a biblioteca é de todos, as pessoas tem que aprender a se apropriar do que é seu, é aberta a toda a comunidade de Brusque e região, porque também atendemos escolas e usuários que vem de Guabiruba e Botuverá.

Quantos funcionários existem e que funções desempenham nesta biblioteca?
Estamos com uma bibliotecária, um servidor responsável pelo setor Braille e que também nos ajuda no atendimento da recepção e telefone, três estagiários de nível médio e um contratado no setor de atendimento.

Que livros são mais requisitados pelos leitores ?
Nosso público é diversificado, crianças são exigentes, não se engane elas tem um gosto apurado e sabem o que é bom, adolescentes estão nas sagas, trilogias o que está na “moda”, jovens e adultos procuram literatura, livros técnicos também são procurados, e idosos gostam muito de clássicos. Alguns já vem com listas preparadas outros, os chamados ratos de biblioteca, gostam de ficar entre as estantes vasculhando para ver se tem novidade, abrir o livro, degustá-lo. A biblioteca é muito frequentada atualmente por conta da localização e outros atrativos como wi-fi, ar condicionado, computadores para pesquis, as pessoas adentram ainda com “medo”, mas aos poucos vão verificando que é um espaço público que tem que usar e cuidar, por isso nosso público está cada vez mais variado.

Trabalhando como bibliotecária você já deve ter presenciado diversas transformações em pessoas através da educação. Como você define a importância de uma boa biblioteca em escolas, faculdades ou outros centros de estudo?
As bibliotecas são indiscutivelmente importantes na educação de uma pessoa, o convívio com o mundo das letras é importante para a formação do indivíduo como cidadão, você já viu alguém (que não seja autodidata) evoluir, financeiramente, intelectualmente que não seja através do estudo? A pessoa que insere a leitura em sua vida consegue não só ler e escrever melhor, ela consegue pensar, questionar , dialogar melhor. É gratificante você ver uma pessoa que passou tardes estudando na biblioteca, nos informar que passou em um concursos ou um aluno que passou no vestibular após ler todos os títulos sugeridos pela universidade que estão disponíveis para empréstimos, ou aquele pesquisador que concluiu sua pesquisa agradecer pois o material encontrado foi muito relevante, os pequenos que veem a biblioteca com “um lugar mágico” ou “um lugar digno de um rei”, sim ouço isso e fico maravilhada, ver adolescentes vibrando quando àquele livro que ele esperava chegou ou quando àquele livro que só tem um exemplar e tem um fila de espera enorme está disponível para o empréstimo e os idosos então, quando informamos que o título novo do autor que eles já leram toda a coleção foi comprado, isso é mágico.
É preciso que os gestores públicos vejam esta importância também, falo como um todo e não só para Brusque, as bibliotecas universitárias são regularmente fiscalizadas pelo MEC e tem critérios rígidos para que estes espaços atendam bem a demanda de alunos. Mas as Bibliotecas Escolares ainda tem um fiscalização tímida, para não dizer quase nula, estes espaços tem uma função importante no processo de ensino-aprendizagem dos alunos, uma biblioteca escolar bem estruturada com profissional especializado faz toda a diferença neste processo, os professores e coordenadores devem exigir que estes espaços façam parte da vida diária da escola, assim como os pais e alunos devem exigir a existência da biblioteca ativa, não aquela do “faz de conta”, tem no “cantinho” aquela “salinha” que está fechada no horário da entrada, no recreio e na saída e o aluno só pode ficar ali se o professor levar. Temos que pensar que para o indivíduo conhecer outros tipos de bibliotecas: jurídicas, especializadas, públicas será uma consequência do que foi apresentado na escola, com a evasão escolar que ainda temos no Brasil, provavelmente a biblioteca escolar seja a única biblioteca que o aluno conheça no passar de sua vida, se o aluno for apresentado a um espaço fechado, sem acervo, sem profissional, não vai querer saber de bibliotecas, nem de leitura, nem de pesquisa, será tudo um ciclo.

Dia 12 de março em que se comemora o profissional bibliotecário. Você acha que o bibliotecário é devidamente reconhecido?
Ainda somos vistos como guardadores de livros, muitas pessoas pensam que todos que estão trabalhando em uma biblioteca são bibliotecários e esquecem que assim como outros profissionais tem que ter uma graduação em biblioteconomia. Foi o tempo em que os bibliotecários estavam somente em bibliotecas, trabalhamos como gestores e disseminadores de informação e há muitas empresas, escritórios de advocacia, imobiliárias, hospitais nos vendo com outros olhos, procurando bibliotecários para trabalhar na gestão de documentos. Com o advento das novas tecnologias e da globalização que tanto se fala, as pessoas tem pressa, querem a informação cada vez mais rápida, precisa, confiável e o bibliotecário é o profissional que pode ajudar em todo este caos. O livro não chega até uma estante sozinho, você o encontrar se tiver somente uma estante de livros, mas e se você tem cinquenta estantes, como achar? Assim acontece com a informação, as pessoas tem que saber que o profissional bibliotecário é um profissional da informação em qualquer suporte que ela esteja.
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O que você acha que é mais legal no seu trabalho?
Posso dizer que gosto de tudo? Passei por vários setores quando trabalhei no TJSC e aprendi muito com as bibliotecárias de lá, eram nove, cada uma com um perfil, uma tarefa específica, hoje utilizo o que aprendi, no atendimento, no processamento técnico, nos projetos culturais, nas parcerias que fechamos, até porque, como ainda não temos outro bibliotecário para dividir responsabilidades, acabo respondendo por todas.

Para além da leitura que outras atividades podemos encontrar?
Em uma Biblioteca Pública existe muito potencial de projetos, o que não falta é vontade, o que falta são outras coisas, mas esta é uma conversa longa. Hoje temos o empréstimo de livros e gibis, o Vamos à Biblioteca, voltado as escolas municipais, estaduais e particulares, auxiliamos no projeto do Ponto de Leitura, mantemos a Estante Saudável na Policlínica, atendemos cegos e baixa visão e pretendemos mais em 2015.

Por ser bibliotecária, você conhece muitos livros?
Há um estigma que bibliotecário lê muito, na verdade todo mundo deveria ler muito. Quando trabalhamos em uma biblioteca o que menos se faz é ler, a leitura por prazer é somente após o trabalho, nós bibliotecários não conhecemos muitos livros, mas muitos assuntos, através do livro que lemos, do usuário que nos fala sobre o livro que leu e principalmente no processamento técnico, onde o livro deve ser investigado – o autor, o título, o assunto - e outras informações que são relevantes para sabermos como recuperá-lo, na verdade é um aprendizado constante. Sempre aparece usuários com assunto ou termo diverso para pesquisar e na pesquisa acabamos aprendendo sempre.



Você acha que livros impressos serão sempre valorizados ou já sofrem com a era da internet?
Há uma discussão entres estudiosos, autores e até o senso comum de que o livro impresso vai acabar e tal, mas pelo que tenho lido e pesquisado há uma tendência muito grande da retomada do livro impresso, até mesmo entre adolescentes que tem um perfil mais tecnológico, estão preferindo os livros impressos para poder trocar com os amigos, levar para qualquer lugar sem ter que pensar que acabou a bateria, a internet é muito mais para os textos curtos, informações instantâneas, rede de comunicações, material técnico do tipo artigos científicos em grandes bases de dados, mas o livro impresso ainda vai persistir por muito tempo, pode-se perceber até pelos muitos livros que são publicados anualmente, alguns são disponibilizados digitalmente, mas em sua maioria não deixa de ser impresso.
O que você acha dos livros on-line (
e-books e audiolivros)?
Os E-books estão ai, os conheci faz algum tempo, achei incrível aqueles aparelhos que tu compra/baixa os livros e se quiser e tiver dinheiro, tem uma biblioteca inteira ao seu dispor. Tem a vantagem da portabilidade e alguns já são acessíveis no mercado e os valores dos livros são muito menores que os impressos pelo baixo custo de produção , outros podem ser baixados pela internet, aqueles que são domínio público ou disponibilizados pelos autores com licença aberta. Algumas bibliotecas no Brasil, principalmente as universitárias já estão com uso de e-books em seu acervo, mas ainda não é uma realidade totalitária, no Brasil temos ainda um percentual de pessoas que mal leem e se leem mal sabem interpretar, a tal falta de letramento informacional, como então terão e-books se nem o impresso tem a capacidade de ler e entender? São questões preocupantes em nossa área, sim, digo nossa por ser de todos que estão ligados a educação e todos as pessoas engajadas em um país melhor deveriam estar ligados a educação. Quanto ao audiolivro vejo como uma necessidade para cegos e baixa visão já que nem todas as pessoas com estas deficiências conseguem aprender o Braille por diversos motivos e até porque a impressão deste tipo de suporte tem ainda um valor elevado.




Entrevista publicada no Jornal Em Foco  aos 30 de janeiro de 2015Exibindo 1472038_10201929470014046_5213617088358315067_n.jpg

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